Resenhas

Vic Mensa – The Autobiography

Álbum de estreia de jovem rapper de Chicago soa ambicioso

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Ano: 2017
Selo: Roc Nation, Capitol
# Faixas: 15
Estilos: Hip Hop, Rap
Duração: 60:29
Nota: 3.5
Produção: No I.D., Vic Mensa, Kosine, Mike Dean, Om'Mas Keith, Pharrell Williams, DJ Dahi, The-Dream, Tricky Stewart, Smoko Ono, Papi Beatz, 1500 or Nothin'

The Autobiography é o primeiro álbum completo de Victor Kwesi Mensah, que também atende pelo codinome de Vic Mensa. Este título é uma coisa que, já de primeira, salta aos olhos. Como o jovem artista, do alto dos seus poucos 24 anos de idade, se propõe a escrever uma autobiografia? O que significa elaborar um trabalho que, já de partida, parece ter cruzado a linha de chegada?

Uma resposta possível está na importância que ele dá à sua trajetória profissional. Ou seja, com o nascimento do artista Vic Mensa, o cidadão comum Victor Kwesi Mensah acaba ficando para trás. Os sintomas desta aposta em si mesmo são bastante visíveis ao longo do álbum. The Autobiography é mais um trabalho para estabelecer o artista enquanto personalidade do que uma narrativa pessoal: se Mensa fala sobre si próprio, o faz edificando uma imagem híbrida de rap god e rockstar.

Muito disso acontece pelo lugar privilegiado que Mensa ocupou desde cedo. Partindo de parceiras com Kanye West e aterrisando com um lançamento pelo selo de Jay-Z, um time de nomes importantes endossa a carreira do artista. A lista de participações por aqui, aliás, é grande e inclui gente como Pharrell, Syd e Ty Dolla $ign.

No entanto, este sangue nos olhos em busca do pódio é o que marca alguns dos momentos mais frágeis de The Autobiography. A produção do álbum baseia-se no Rap da transição dos anos 90 para os 2000, ou seja, procura incorporar elementos do R&B e do Rock na tentativa de torná-lo palatável para os padrões da indústria musical. Não por acaso, é possível reconhecer em Mensa a grandiloquência de Kanye West e de Eminem – alguns excertos narrativos possuem, inclusive, a “paisagem sonora” de um lápis riscando o papel, como se Mensa estivesse escrevendo uma carta, assim como Stan fez na emblemática música de Eminem. A capa de The Autobiography, por exemplo, cita Malcolm X. É uma homenagem, mas é, ao mesmo tempo, uma tentativa de inflamar a importância do artista dentro daquilo que ele faz.

Isso tudo, é claro, traz uma diligência para o trabalho, que, quando confrontada com momentos de maior honestidade e alteridade, faz nascer momentos bastante interessantes, que lembram J. Cole e até mesmo Kendrick Lamar. Neles, a narrativa de uma vida cotidiana interpelam-se a comentários sociais. Mensa apresenta uma história de vida marcada pela perda de amigos, traições nos relacionamentos e violência policial.

A ambição de Mensa em seu primeiro trabalho – são 15 faixas que atingem 60 minutos de duração – é louvável, mas a quantidade de assuntos e referências acabam tornando este um álbum desfocado. Vale atentar para as letras mais inspiradas e para o bom humor de algumas faixas para tirar daqui os melhores momentos que o Rap de Mensa pode oferecer.

(The Autobiography em uma música: Memories On 47th St.)

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BOM PARA QUEM OUVE: J. Cole, A$AP Twelvyy, Kanye West
ARTISTA: Vic Mensa
MARCADORES: Hip Hop, Rap

Autor:

é músico e escreve sobre arte