Soft Sounds from Another Planet, o novo trabalho da banda Japanese Breakfast, nasceu – ainda no plano das ideias – como um álbum conceitual. A idealização na cabeça de Michelle Zauner consistia na construção um musical de ficção-científica. Embora, na prática, as coisas não tenham seguido conforme o planejado, é fácil notar como essa semente floresceu: o segundo trabalho do grupo, recheado de atmosferas esfumaçadas e blips blops sintéticos, olha para as estrelas e revela detalhes da vida íntima da compositora.
As letras que percorrem o álbum seguem por uma linha de contemplação do cotidiano e dos dramas íntimos que tem muito a ver com o Indie Rock estadunidense dos anos 90. São dramas mais ou menos genéricos, que brotam no corredor do supermercado, na mensagem de celular, na fatia de pizza em frente à TV. Jay Som, Alvvays e Soccer Mommy talvez sejam exemplos que sirvam bem como parâmetros deste universo. O diferencial no caso de Japanese Breakfast é a aura cósmica, um Dream Pop que não esconde suas referências distópicas de Vangelis na trilha sonora de Blade Runner ou da sentimentalidade de um Daft Punk em Discovery.
O resultado é essa mistura de Pop, Shoegaze e Synthpop, carregado de dilemas emocionais e de auto-ironia. Soft Sound from Another Planet é evocativo: lembra aqueles momentos de seriado americano nos quais os personagens pegam uma cerveja, deitam no telhado, olham para as estrelas – confundem algumas com discos-voadores – e pensam na vida. Não era necessária a grandiosidade de um musical: é na produção econômica do trabalho que Zauner pode considerar a missão cumprida.
(Soft Sounds from Another Planet em uma música: Machinist)