Resenhas

Princess Nokia – 1992 Deluxe

Jovem rapper elabora belíssimo trabalho millennial e cosmopolita

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Ano: 2017
Selo: Rough Trade
# Faixas: 16
Estilos: Hip Hop, Rap
Duração: 46:24
Nota: 4.0
Produção: A-Trak, Blanco, Bobby Johnson Beats, D.A. Doman, Dj bass bear, Kadi Haze, Lex Luger, OG Wally West, Saint, Sammy, Sound M.O.B., Tomas Spisak

Destiny Frasqueri é Princess Nokia, rapper nova-iorquina de 25 anos que articula uma série de influências distintas em sua música, construindo uma visão ampla de mundo. 1992 Deluxe, seu álbum de estreia pelo selo Rough Trade, é uma versão expandida de seu EP anterior e reflete o que significa ser cosmopolita na geração Y.

Eu sou uma mulher forte e de cor. Acredito que toda mulher que seja forte e de cor é automaticamente uma feminista, mesmo que ela não se veja assim.” disse a artista para a série Sound Off (trecho destacado por Ana Laura Pádua em nosso artigo Seis Nomes Femininos de Muito Respeito na Música de Hoje). Este é, de fato, o eixo elementar sobre o qual gira a música de Frasqueri, uma espécie de feminismo inato feito por uma geração que não baixa a voz e não tem vergonha de ser quem é.

Quem Princess Nokia é, aliás, configura uma parte mais interessante da receita de 1992 Deluxe. Nova-iorquina, porto-riquenha, afrodescendente, nerd, cool, gótica são elementos que se interseccionam na produção do trabalho. Kitana é uma faixa agressiva e lembra a cadência de Die Antwoord, Tomboy ataca pela via da artimanha sensual de M.I.A., Mine, por sua vez, passa tema Don’t Touch My Hair de Solange. Já ABCs of New York evoca a tradição do Rap da cidade nos anos 90 (vinda de Nas, por exemplo) mas agora evocando a necessidade de convívio, o reconhecimento de que a cidade é feita de nativos e imigrantes em fluxo.

A produção das faixas, que soam caseiras, faz todo o sentido no contexto de 1992 Deluxe, na medida em que seria muito estranho pensar uma produção cristalina, hi-fi e de super estúdios musicais da indústria atuando por aqui. Princess Nokia, pelo menos no contexto deste trabalho, não se dobraria às forças hegemônicas do mercado para fazer o que faz. Tudo precisa ter um ar esfumaçado, de música feita sentada na cama, de roupa suja no canto do quarto, de baseado fumado na janela. Por isso, se o refrão de uma música como Chinese Slippers é “Kentucky fried chicken and pizza hut! McDonalds! McDonalds!”, não se trata de despretensão feita por acaso: tudo serve para traçar um retrato não apologético do que significa viver no subúrbio. Nessa massaroca, 1992 Deluxe passa pelo Rap Trap, pela música Eeletrônica Industrial e chega aos samples do Rap old school. Os videoclipes, por sua vez, tem um climão meio Gus Van Sant meio Harmony Korine que contribuem para o retrato desta juventude urbana não normatizada.

Empoderamento, desconstrução de gênero e outros jargões da cartilha passam por aclimatados pelo universo de Frasqueri, e denotam o embasamento crítico de uma música fluída, sangue nos olhos, fiel aos próprios princípios. Um dos grandes trabalhos do ano.

(1992 Deluxe em uma música: ABCs of New York)

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BOM PARA QUEM OUVE: Little Simz, Flora Matos, M.I.A.
MARCADORES: Hip Hop, Ouça, Rap

Autor:

é músico e escreve sobre arte