Resenhas

together PANGEA – Bulls and Roosters

Quarto disco de quarteto Indie Rock mostra fragilidades da insistência na mesma fórmula sonora há tanto tempo

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Ano: 2017
Selo: Nettwerk
# Faixas: 13
Estilos: Indie Rock
Duração: 36:29
Nota: 3.0
Produção: Andrew Schubert e Together PANGEA

together PANGEA pode ser um nome pouco escutado por alguns entusiastas do Indie Rock, mas a banda esconde uma longa tradição e afinidade com o gênero. Fundado em 2009, na Califórnia, o grupo nasceu quando o império alternativo dominava rádios, com gigantes como Arctic Monkeys e The Strokes começando a mostrar sintomas de velhice e Los Campesinos! e Cage The Elephant emergiram dos subterrâneos do MySpace. Dessa forma, é possível entender a formação musical do quarteto e suas intensas referências sonoras como apegos a equipamentos vintage, riffs estridentes e de fácil execução e um tempero Pop indispensável para a explosão do fenômeno do começo dos anos 2000. A banda produziu três discos com estes recorrentes elementos e, mesmo que algumas vozes manifestassem e declarassem o Indie como morto na metade dos anos 2010, a certeza de reafirmar esta fórmula estava forte, convicção esta que levou o conjunto a abrir shows de Wavves, Ty Segall e The Black Lips.

Assim, chegamos a 2017, quando o grupo lança seu novo trabalho Bulls and Roosters em uma conjuntura dominada pela explosão Hip Hop e a música Eletrônica. Vemos aqui um grupo que mantém firme sua devoção ao Indie, sem necessariamente apelar para uma estética Lo-Fi. Este é claramente um álbum bem mais preocupado em trazer uma qualidade mais profissional para aquele aspecto descompromissado do começo da carreira, ao mesmo tempo que reafirmando temas adolescentescos. Perceba que aqui “adolescentesco” vem como um agregador de temas: desde mais soturnos e deprês, passando pelo cotidiano, até aqueles mais alegres e que negam a morte. De qualquer forma, é um álbum que não procura ir muito além disso e, embora contenha composições divertidas, acaba cansando um ouvinte pouco acostumado com o significado e nostalgia do Indie. É como se a banda procurasse maneiras novas de compor, mas todas estivessem dentro de um grande quadrado com arestas delimitadíssimas.

Sippy Cub abre o registro com um espírito energético e berrante, como se tivéssemos um deja vú de discos passados de Cage The Elephant. Kenmore Ave. traz uma espécie de releitura de Dire Straits, trazendo um ar menos Blues e mais saltitante. Essa última, por sinal, não é a única referência dos anos 70/80 que vem à tona, como por exemplo a rollingstoneana Money On It e a melancólica homenagem a The Cure, Stare At The Sun. Peach Mirror, por sua vez, evoca violões ensolarados de uma forma que só os californianos podem compor. A partir de certos momentos começamos a ver uma série de combinações destes elementos citados, gerando variantes limitadas como Southern Confort, Better Find Out e The Cold. Terminando o registro, nos deparamos com uma balada mais melancólica, como Is It Real, e Alison, uma espécie de blues estilizado que se permite arriscar em alguns timbre mais Lo-fi.

Trazendo referências bastante diretas e, por vezes repetitivas, together PANGEA mostra um disco que certamente agradará fãs assíduos e remanescentes do Indie. Entretanto, encontrará certa resistência por parte de ouvintes que pedem algo mais sofisticado e/ou complexo. Permeando as esferas do medíocre, Bulls and Roosters é um trabalho que reafirma as certezas do grupo de uma forma que põe em cheque o quão maior que isso eles podem nos mostrar, já que estamos falando do quarto disco do grupo. Um disco divertido e ponto.

(Bulls and Roosters em uma faixa: Kenmore Ave.)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique