Resenhas

Castello Branco – Sintoma

Segundo álbum do músico passa mensagem clara através de sons e versos fora do óbvio

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Ano: 2017
Selo: Independente
# Faixas: 11
Estilos: Pós-MPB, Folk Eletrônico
Duração: 42'
Nota: 4.5
Produção: Castello Branco, Lôu Caldeira, Ico dos Anjos

De maneira bem resumida, há bandas e artistas que lançam um álbum com uma perspectiva de longo prazo em sua discografia, como se cada lançamento oferecesse um capítulo intencional em sua história, enquanto outros colocam grande parte de si (para não dizer “tudo”) em cada registro, como se aquele fosse o último, ou único, que fizesse. Ouvir Sintoma dá a impressão de que Castello Branco encontra-se nessa segunda categoria. Não que ele tenha agora dito tudo o que tinha para contar, longe disso, mas, se por algum motivo o mundo nunca mais veja um disco seu, ficaria a impressão de que sua contribuição ao repertório cultural de sua geração está completa.

Ao longo de suas onze faixas, Sintoma encontra formas mais intrigantes do cantor passar sua mensagem, seja pelo instrumental ou mesmo com a maneira com que os versos se desenrolam. Tem a ver com um grande uso de elipses em ambos os casos, algo que combina largamente com a música Eletrônica que ampara de maneira delicada e certeira os outros timbres e frequências de meditação usados, com espaços sonoros preenchidos pelo tempo no decorrer do álbum e entre uma faixa e outra. O mesmo acontece nas letras, com frases ora interrompidas, ora quase soltas nas músicas, instigando a interpretação do ouvinte.

Pode parecer subjetivo demais, mas o recado é dado com clareza, seja sobre a fluidez dos gêneros (“não tem mais esse trem de homem”, em Coragem), a liberdade de ser você mesmo (Assuma) ou até no dissertar um ponto de vista sobre as dinâmicas das relações (O Peso do Meu Coração). Há espaço também para canções de teor mais popular com seus temas românticos, como Não Me Confunda, Estou Afim e Do Interior (essa última com um dos momentos mais bonitos de todo o disco), embora todas elas carreguem intencionalmente as mesmas ideias ouvidas em outras faixas (“O meu coração é teu agora/Não faço questão de ter-te em troca”, em Estou Afim, por exemplo).

Sintoma, ainda que bastante coeso, não abre mão da variedade entre sons e climas, seja nos complementares instrumentos acústicos e timbres eletrônicos, ou nas músicas mais lentas e outras mais animadas, o que oferece uma dinâmica agradável a cada audição. Os 42 minutos passam rapidamente e sua mensagem positiva reverbera no ouvinte mesmo após seu término (“Não há mal que não possa ter seu fim” é o último verso do disco), o que acontece também pela oralidade no discurso, em frases como “meu cantinho é do seu ladinho” (em Meu Reino) e “se eu fosse esperar o que você me prometeu, vish” (Não Me Confunda). Ele canta baixinho na maior parte das músicas, sabendo que a mensagem sussurrada é aquela que você precisa parar para ouvir com mais atenção, o que reforça o convite ao envolvimento presente no álbum.

Em um salto considerável em relação à sua estreia com Serviço, Castello Branco construiu uma obra tão impactante quanto afetuosa enquanto dialoga com o contemporâneo em sua primorosa produção, que abraça o ouvinte em um estado contemplativo e, ao mesmo tempo, sentimental. Pode ser que Sintoma se mostre no futuro como apenas mais uma ótima edição de sua discografia, hoje, porém, fica com cara de “obra definitiva” na carreira do artista.

(Sintoma em uma música: O Peso do Meu Coração)

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BOM PARA QUEM OUVE: Wado, Cícero, Bon Iver

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.