Resenhas

Meu Nome Não É Portugas – Sob Custódia Da Distância

Disco solo de Rubens Adati traz reflexões sobre as distâncias e suas peculiaridades

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Ano: 2017
Selo: Cavaca Records
# Faixas: 10
Estilos: Folk Psicodélico, Rock Alternativo, Dream Pop
Duração: 32:11
Nota: 3.5
Produção: Rubens Adati

Rubens Adati percorreu muitos caminhos até chegar onde está. Transitando entre a suavidade de Vladvostock e a sonhadora banda de Ale Sater, o músico paulista pode encarar diversas formas de expressar nossos sentimentos e aflições. Parece que todos os projetos com os quais ele se envolveu possuem uma aura etérea indissociável que nos provoca a pairar sobre ambientações oníricas muito bem construídas.

Assim, com tanta quilometragem rodada, Rubens se sentiu confortável o suficiente para lançar seu primeiro EP solo, sob a alcunha de Meu Nome Não É Portugas. No começo desse ano, tomamos contato com e n d o p a s s o s, uma espécie de ensaio confessional que concetrava nuances psicodélicas e Dream Pop em torno de letras cotidianas, porém de poesia inegável. Meses depois dessa primeira empreitada, o músico preparou uma nova tentativa de expor seus pensamentos, mas agora, as coisas giram em torno daquilo que ele parece mais ter afinidade: as distâncias.

Como Rubens afirma, SOB CUSTÓDIA DA DISTÂNCIA reúne dez faixas que tem como tema em comum as peculiaridades das distâncias, sejam elas físicas ou psicológicas. Em uma mistura de Soft Rock, Psicodelia, Dream Pop e até alguns pequenos flertes com o Emo, o músico procura a partir da escolha de arranjos e harmonias traduzir os diversos sentimentos evidenciados ao sermos expostos à distância.

Dessa forma, faz sentido que o disco possua tantos humores, afinal, estar separado de alguém ou alguma coisa pode trazer significados tão distintos quanto a natureza de seus objetos em questão. Em certos momentos temos baladas Pop mais concretas, mas em outros a lisergia de camadas de sintetizadores nos provocam pensamentos completamente distintos. Assim, é possível entender que esta pluralidade e heterogeneidade em um mesmo disco vem da tentativa de compreender suas próprias vivências e do quão complexo a coisa realmente é.

Por mais que seja tentado a encarar a distância como algo concreto e mensurável, a primeira faixa já aplica esta dinâmica a um conceito abstrato: o esquecimento. A partir disso, Rubens começa a alternar entre os voos internos e externos. EPLOV, por sua vez, traz constantes sobreposições de vozes, sintetizadores e xilofones com um intuito de desorientar o ouvinte, ao mesmo tempo que mostra de forma fidedigna a confusão de seus pensamentos. Mas é curioso que uma faixa como SETE CANTOS, que se usa de um violão melancólico e carinhoso, também explore o mesmo tema citado anteriormente. ESPERA, por sua vez, dispensa a necessidade de uma letra para imprimir um sentimento de suspensão, como se nos mostrasse de forma sonora esta impotência em relação a determinados fatos. FUGIR é uma das faixas que traz um aspecto bom da distância, a partir do momento que nos utilizamos da mesma para nos separar de nossos problemas. Por fim, chegamos em A V I A G E M, uma composição que decide pegar tudo que aprendemos até então e desconstruir em texturas e barulhos.

Este é um disco de muitas naturezas, mas que de certa forma conversam sobre um mesmo tema. Rubens Adati produz aqui uma expressão honesta de suas reflexões e esta é, de fato, sua maior qualidade. A sinceridade das faixas é realmente um tesouro neste disco, produzindo significados que nos tocam e nos fazem refletir. Um trabalho para pensar.

(SOB CUSTÓDIA DA DISTÂNCIA em uma faixa: SETE CANTOS)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique