Resenhas

Blue Hawaii – Tenderness

Dupla canadense revisita com criatividade Pop noventista

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Ano: 2017
Selo: Arbutus Records
# Faixas: 16
Estilos: Pop Alternativo, Pop Eletrônico
Duração: 44:41
Nota: 3.5
Produção: Raphaelle Standell e Alexander Cowan

Alguns hão de relacionar o termo Blue Hawaii ao título de um filme de Elvis Presley, lançado em 1961. Aqui ele se chamou Feitiço Havaiano e ficou marcado por conter em sua trilha sonora o classicão Can’t Help Falling In Love. Outros, provavelmente, baterão pé em nome desta dupla canadense, formada pelo ex-casal Alex Cowan e Raphaelle Standell-Preston. Blue Hawaii, para eles, é 100% Eletrônico, muito dançante e capaz de fazer uma sonoridade inteligente, com referências de várias vertentes da música sintética, mas com alma e boas sacadas. Tenderness, seu terceiro disco, poderia ser um dos melhores do ano. Vamos entender porque não é.

A resposta é bem simples: porque ele não tem mais duas ou três canções com a estatura de No One Like You, a segunda faixa do álbum. Ela é uma pequena, adorável e sensual estadia numa pista de dança que parece: 1) submersa e 2) situada no futuro. O clima obtido aqui é de quase-sonho, com uma mixagem de batidas eletrônicas, cordas e uma impressão constante de que irromperá uma orquestra completa da Philadelphia International a qualquer momento, com metais, naipes e vocalistas de apoio. Mas não. O que acontece é uma sucessão de belezuras subentendidas e insinuadas. Lembra também Everything But The Girl em seus momentos mais eletrônicos, do início dos anos 1990, mas ainda não é uma referência precisa. Sendo assim, depois de tentar mapear o DNA da faixa de 4 minutos e meio, capitulo e admito que Alex e Raphaelle chegaram a algo relativamente novo, ou seja, a uma mistura nova e muito, muito bem feita. No One Like You já está na minha lista pessoal de melhores canções de 2017, fácil.

O restante das canções do álbum (15, entre elas 4 vinhetas) não arranha a majestade de No One… e isso causa uma frustração danada. Entre elas, claro, há ótimos achados. A proposta da dupla é condensar a música dançante noventista, incluindo Pop e House, num pacotinho de referências com batidas eletrônicas e minimalismo padrão 2017, ancorada no binômio formado pela sensualidade da voz de Raphaelle e na capacidade de Alex em erguer painéis instrumentais cremosos o bastante para dar o suporte necessário. Não há afetação, não há exagero, não há nada que atrapalhe. Versus Game, por exemplo, ainda conserva a impressão “underwater” de No One Like You mas perde feito na comparação entre beats e climas, além de não ter cordas e demais acepipes sonoros.

Felizmente, não há mesmice por aqui. As canções se espalham dentro dos limites propostos de atuação da dupla, evitando a repetição indiscriminada. Dessa forma, há a lentidão marota de Belong To Myself convivendo com a psicodelia controlada de Younger Heart, assim como há a batida Reggaeton de Make Love Stay, que surge como uma referência iluminada e muito bem sacada, contrastando com o experimentalismo Techno-bjorkizante de Blossoming From Your Shy e a baladona FM revisitada que é Do You Need Me?, que novamente exibe o potencial sexy do falsete de Raphaelle, algo raro de se ver nesses tempos. A faixa-título traz batidinhas e vocais esparsos e dá adeus antes de duas vinhetas encerrarem o álbum num quase anticlímax. Um pecado menor, passível de perdão.

A excelência da dupla pode ser percebida nos detalhes de Tenderness mas grita altíssimo em No One Like You, principal motivo pelo qual ficaremos de olho nela daqui pra frente. Ouçam.

(Tenderness em uma música: No One Like You)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.