Resenhas

Noel Gallagher’s High Flying Birds – Who Built The Moon?

Ex-Oasis grava seu melhor disco fora da banda

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Ano: 2017
Selo: Caroline
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Eletrônica
Duração: 48:52
Nota: 4.0
Produção: David Holmes

Conheço pessoas legais que estão se referindo a este terceiro disco pós-Oasis de Noel Gallagher como o seu Zooropa. A comparação entre Who Built The Moon e o segundo “disco Eletrônico” de U2, lançado em 1993, é exagerada, mas há uma semelhança, digamos, conceitual em ambos os trabalhos. Sem dúvida, este é o mais experimental trabalho de Noel, aquele em que há uma espécie de reconecção entre o melodista de canções perfeitas com o artesão de estúdio, o cara que tem apreço pelo rockão de estádio inglês mas que também gosta de mexer em sintetizadores, samplers e demais engenhocas de estúdio. Desta mistura de personas, saiu o equilíbrio que deu liga para Oasis desfrutar de quase 20 anos de protagonismo musical. Agora, finalmente, Noel lança um trabalho aventureiro, eletrônico e arrojado, que poderia ter sido o sucessor do terceiro de sua antiga banda, Be Here Now, de 1997.

Who Built The Moon? tem ousadia de sobra, mas não rompe com nenhum parâmetro de Noel, o que é bom. Ele apenas recupera o seu lado curioso e experimental, o que se manifesta num bem vindo namorinho de portão com timbres eletrônicos interessantes e – por que não dizer – datados, uma vez que o panorama é claramente noventista, no máximo, 00. Isso não é problema, seria complicado ver o Gallagher mais velho emulando EDM e outros subgêneros mequetrefes da música sintética. Aqui, com a ajuda de um contemporâneo, o produtor e DJ David Holmes, Noel embarca numa jornada relativamente épica pelos terrenos que ele mesmo pisou com muita hesitação no passado, reencontrando com o mesmo cara que cantou e coescreveu Setting Sun, dos Chemical Brothers ou que assustou os fãs do Oasis ao abrir um álbum com uma faixa totalmente eletrônica, no caso, Fuckin’ In The Bushes, em Standing On The Shoulder Of Giants (2000).

Interessante notar o contraste entre o experimentalismo deste álbum e o melodioso primeiro trabalho solo de Liam Gallagher, As You Were. Tem a ver com a visão que ambos têm sobre os anos 1960: enquanto Liam se foca na recriação de climas, Noel é um cara que tem o olhar noventista para aquele tempo, dando asas a conceitos estéticos mais próximos de uma, digamos, “nostalgia dupla”. O lado melodista de Noel está presente de forma quase inevitável, dando sinais de vida tanto nos arranjos como nas inovações. Duas canções instrumentais e curtas, Interlude (Wednesday Part 1) e End Credits (Wednesday Part 2) mostram um lado delicado e lírico, poucas vezes revelado em todos esses anos de carreira. As canções funcionam como um interessante contraste em termos de estrutura em relação às outras faixas do álbum, dando um ar diversificado e bem legal.

Who Built The Moon? tem três outras músicas matadoras e talhadas para a cantoria em grandes espaços: KeeP On Reaching, que tem metais, teclados subterrâneos e um serpentários de guitarras por todos os cantos, tudo revestido por um arranjo de timbragem suja, uma belezura; It’s A Beautiful World, que tem um baticum eletrônico noventista reconhecível e adorável, que é onipresente ao longo da bela melodia, que deságua num refrão amigo, que te espera de braços abertos. A terceira é She Taught Me How To Fly, pop até a medula, com tecladinhos submersos na maçaroca de estúdio, ostentando outro refrão poderoso e catartico. É como se fosse uma mistura de New Order e U2, modelo 1993. Funciona bem. Além delas, temos o baladão psicodélico de Be Careful You Wish for e outro adorável exemplo de popice bem feita: Black & White Sunshine.

Há algum tempo, quando resenhei o álbum de Liam Gallagher, disse que ele era o melhor disco lançado por um Gallagher depois do Oasis. Agora, com este novo trabalho de Noel, tal certeza já não existe. O melhor talvez seja ter os dois trabalhos ao alcance dos ouvidos, como se fosses dois lados de um mesmo trabalho. Na pior das hipóteses, Who Built The Moon? sobressai como um senhor disco de Rock. E isso pode bastar.

(Who Built The Moon? em uma música: It’s A Beautiful World)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.