Resenhas

Nevilton – Adiante

Novo álbum é uma injeção de boas vibrações líricas e musicais

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Ano: 2017
Selo: Independente
# Faixas: 13
Estilos: Rock Alternativo, Rock
Duração: 41:02
Nota: 4.0
Produção: Nevilton de Alencar

Este novo disco de Nevilton me fez lembrar de um pequeno livro que tinha lá em casa, chamado Otimismo em Gotas. Bem antes dessa onda empreendedora de autoajuda, que dá forças às pessoas para aceitarem a opressão da vida em vez de motivá-las a mudar o mundo, havia algo bem intencionado, leve e com a impressão de realmente querer o bem do leitor, pelo menos era essa a impressão que eu tinha quando lia casualmente uma das páginas. Pois bem, Adiante, um sincero, despojado e muito bem feito trabalho, equivale a essas pequenas injeções de otimismo que a gente recebe de onde menos espera. Às vezes alguém te ajuda com as compras, abre a porta do elevador sem que você peça, espera você atravessar a rua, enfim, pequenos gestos que arrancam sorrisos e dão um gás no cotidiano que levamos “adiante” nessa vida.

Não que o paranaense Nevilton de Alencar e sua banda tenham mantido tal conceito em mente enquanto compunham e gravavam as canções. Elas também equivalem a uma boa conversa com amigos queridos que não vemos há algum tempo, mas que temos a impressão de nunca termos nos separado. A boa vibração que o disco contém, além do talento dos sujeitos na confecção de boas melodias e arranjos, torna a audição de Adiante uma dessas experiências que fazem a gente renovar a fé nas pessoas. Nevlton passou 4 anos sem gravar material novo, mas esteve, ao longo deste tempo, envolvido em vários projetos paralelos interessantes. Tais experiências conferiram a ele uma casca artística notável, traduzindo em maturidade como músico, cantor e compositor, algo que dá pra perceber facilmente ao longo das canções.

Maturidade, em tempo, não é sinônimo de bundamolice como podem falar os mais céticos. Adiante é revestido por uma abordagem guitarreira e inegavelmente Rock, com uma belíssima produção que destaca timbres e nuances, oferecendo um equivalente musical às belas letras. Em alguns momentos temos surpresas, como em Indiscutivelmente, na qual Nevilton chega a lembrar Raul Seixas em alguns momentos, com vocais cantados com sangue nos olhos, notável. Mesmo que o disco tenha o Rock como referência mais evidente, há espaço também para belas variações, como Valsinha, que, como o título diz, é uma singela valsa, com andamento cadenciado, delicadeza vocal e lirismo: “diz pra onde foi, meu coração também quer ir”, tudo muito adequado e encaixado dentro da proposta afetuosa do álbum. Doce de Jabuticaba, cheia de nuances psicodélicas e Humana, mergulhada numa levada semi-country, são outras duas belezinhas.

O destaque do disco, no entanto, vai para as canções mais próximas deste tal Rock alternativo brasileiro dos anos 00. Lua e Sol, uma das mais belas canções em português deste ano, tem letra que a gente pensa em escrever quando está amando. O refrão é um abraço suspenso no ar: “e tal distância que afasta a lua do sol, só faz doer, mas tudo isso é normal/e tal distância não afasta só esse casal, que está a sofrer por este triste mal”. Amarela, que leva o troféu informal entre as canções do disco, é uma mensagem de positividade em meio a uma estrutura powerpop muito bem urdida.

Tudo funciona e se encaixa à perfeição neste disco de Nevilton. Recomendadíssimo em tempos obscuros e obscurantistas como os nossos.

(Adiante em uma canção: Amarela)

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BOM PARA QUEM OUVE: Vanguart, Transmissor, Apanhador Só
ARTISTA: Nevilton
MARCADORES: Rock, Rock Alternativo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.