Resenhas

Posada e o Clã – Posada e o Clã

Novo disco do grupo mostra melhores qualidades de sua sonoridade bem como letras instigantes

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Ano: 2017
Selo: Sagitta Records
# Faixas: 11
Estilos: Stoner Rock, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 32:56
Nota: 3.5
Produção: Posada e o Clã e Jr.Tostoi

Restringir a sonoridade de Posada e o Clã ao Rock Alternativo é praticamente uma injustiça. Desde 2013, com seu disco estreia, categorizar suas músicas em um gênero específico parece ser um desafio constante. Há um toque de Math Rock descompassado, uma sujeira agressiva de Stoner Rock, versos ácidos e crônicos de Carlos Posada e uma espécie de MPB distorcida que, juntos, proporcionam uma espécie de investigação do ser humano. Desta forma, ouvir um registro do grupo é quase um exercício do existencialismo no qual, por meio das composições imprevisíveis, somos sujeitos a questionar o conteúdo das composições assim como nós mesmos.

Assim, intitular seu novo registro com o nome da banda serve como uma prova de que este é um trabalho em prol de mostrar a essência do grupo: a investigação. Novamente apostando em sua sonoridade bastante heterogênea, estamos diante de composições que mostram peculiaridades da existência humana e, portanto, faz sentido que a banda as ilustre com arranjos e timbres tão diferentes entre si. Em outras palavras, é como se esta investigação humana revelasse tamanha complexidade que seria muita ingenuidade tentar expressá-la de forma musical com apenas um gênero. Por tanto, este trabalho, mais do que os outros, mostra uma espécie de reciprocidade entre a música e a temática lírica, uma habilidade que Posada e o Clã faz com muita propriedade.

A primeira faixa, Jogo do Bicho, já deixa claro que os questionamentos já começaram, ao entoar em alto e bom som “Quem sou, quem é você…”. Logo em seguida, o single Conga traz uma espécie de Indie Rock tenso que sustenta a voz quase profética de Carlos Posada. Poréns (Cláudio Assis) já nos faz relaxar com um jam psicodélica que acompanha uma narrativa sobre o desejo. Doce é uma das composições mais interessantes do disco, trazendo um sentimento de suavidade por meio de timbres fantasmagóricos e uma percussão suingada e marcante (elementos antagônicos em um mesmo contexto: marca registrada da banda). Mais Que Desejo, parceria com Duda Brack, é o ápice caótico do disco, abusando do fuzz e de uma confusão de vozes mostrando o quão fundo estamos na investigação das temáticas. Por fim, Afoito sossega as coisas trazendo uma vibe praieira caprichada nos delays e reverbs e que evolui para um caos contido nos últimos minutos.

Em mais um bom registro, Posada e o Clã comprova a essência de sua sonoridade em um trabalho bem produzido e de referências bem harmonizadas. Por mais que tenhamos essa sensação de querer mais músicas, parece que este trabalho requer uma atenção mais dedicada de nossa parte, descobrindo novas texturas e significados no meio deste labirinto de sonoridades. Um disco complexo sobre o ser.

(Posada e o Clã em uma faixa: Doce)

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BOM PARA QUEM OUVE: Ombu, China, SLVDR

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique