Resenhas

Belle and Sebastian – How to Solve Our Human Problems, Pt. 1

Banda escocesa dá início a nova trilogia de EPs

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Ano: 2017
Selo: Matador
# Faixas: 5
Estilos: Rock Alternativo, Chamber Pop
Duração: 26:10
Nota: 3.0
Produção: Stuart Murdoch, Leo Abrahams

Já se vão mais de 20 anos desde que entrei numa loja de discos no Centro do Rio e comprei, só pela capa, o segundo disco da banda escocesa, If You’re Feeling Sinister. Muito tempo passou, afinal de contas, numa época acelerada, duas décadas são, paradoxalmente, muito e pouco tempo ao mesmo tempo. Se nós, meros seres estatísticos, percebemos isso, Belle and Sebastian também percebe. Numa ação (in)voluntária de revisitar o início de sua carreira, Stuart Murdoch e seus parceiros vêm lançar uma nova trilogia de EPs, do mesmo jeito que fizeram com Dog On Wheels, Lazy Line Painter Jane e 3,6,9 Seconds Of Light, lançados em 1997, como afirmação de sua posição de protagonismo diante de uma nova-velha forma de “Indie”.

Sob o título coletivo de How To Solve Our Human Problems, os EPs serão lançados até fevereiro de 2018, formando um total de 15 canções. Não dá pra saber se as “partes 2 e 3” seguirão o mesmo viés nostálgico que estas primeiras cinco faixas. O som da banda evoluiu ao longo do tempo, passou de uma sonoridade delicadíssima, bem próxima do chamado Chamber Rock, para algo mais vigoroso, menos contido nos limites do tal “alternativo”. Incorporou alguns elementos eletrônicos, algumas tonalidades dançantes, algo até com referência ao som mais Pop dos anos 1960, especialmente da Soul Music. No entanto, aqui, neste primeiro EP, o que temos é um retorno à pegada inicial do grupo, ainda que a produção e a evolução deles como músicos seja notável e nos faça perceber imediatamente que não estamos em 1997. Ainda bem.

Murdoch sempre foi um bom compositor. Sensível, dedicado e boa praça, o cara segue capaz de oferecer pequenas pérolas melódicas, caso explícito da melhor canção presente aqui, logo abrindo graciosamente os trabalhos, Sweet Dew Lee. Dá pra notar uma influência implícita da banda, os pequenos popstars setentistas que ninguém lembra, como, por exemplo, Al Stewart. Há até uma evidente vontade de misturar linhas de baixo diluídas de Disco Music, lembrando muito o sucesso de outro astro fugidio, o australiano Jean Paul Young, responsável pela clássica Love Is In The Air. A belezura se estende para outras faixas, caso da bela We Were Beautiful, cujo título fala explicitamente da passagem do tempo e das reflexões que isso nos leva a fazer, de forma inevitavel. O fim chega com a delicada Fickle Season e com o gracioso instrumental Everything Is Now, coroando esta viagem no tempo, segura, importante e bem feita.

O “bellesebastianismo” segue em frente com estes novos lançamentos e, mesmo que carregue um pouco pesado na autorreferência, os fãs vão se esbaldar e se enxergar nessas canções. O que pode ser melhor para uma banda oferecer ao seu público?

(How To Solve Our Human Problems pt.1 em uma música: Sweet Dew Lee)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.