Resenhas

DZ Deathrays- Bloody Lovely

Duo australiano compensa mesmice com música descompromissada e acessível

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Ano: 2018
Selo: Dine Alone
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Rock
Duração: 37:08
Nota: 3.0
Produção: Shane Parsons e Simon Ridley

Direto de Brisbane, Austrália, vem mais um desses duos rockers. O DZ Deathrays é formado pelo guitarrista e cantor Shane Parsons e pelo baterista Simon Ridley e segue a cartilha do Rock que passou pelo “downsizing” contemporâneo, que leva uma pequena parafernália para o palco e enxuga músicos dentro do estúdio. Já estamos meio cansados deste formato, mas vamos dar o benefício da dúvida para os sujeitos. Este Bloody Lovely é o terceiro disco da dupla e tem um predicado essencial para despertar a boa vontade do crítico: o espírito festeiro, o não se levar a sério, a ideia de diversão acima de qualquer cabecismo estilístico que vise reproduzir sonoridades setentistas em pequenos tubos de ensaio para deslumbretes de plantão. DZ se atribui a missão de fazer música para pular num show e nada mais. E isso é bom.

Ao contrário de similares mais badalados, como The Black Keys ou Royal Blood, que cresceram talvez mais do que deviam, os australianos seguem num confortável semianonimato, o que lhes permite manter a leveza e o descompromisso com nada que não seja fazer o que gostam. Sem pressão, eles dão asas a pequenos e barulhentos hinos suarentos, que funcionam satisfatoriamente dentro desse terreno “rock’n’roll all nite”. E ainda há um belíssimo diferencial no som dos sujeitos: mantiveram intacta uma certa afeição por detalhes dançantes típicos do Disco Punk do início do século 21, que permaneceu subterrâneo em seu som, surgindo aqui e ali em forma de levadas mais rápidas, guitarras com efeitos mais leves e uma bateria com mais suingue e recurso, que não tenta emular sonoridades clássicas – e duras – do rock setentista. Ponto pra eles.

Com este terceiro disco autoproduzido, Parsons e Ridley estão em casa. Os temas são tocar guitarra e ir pra noite durante o verão, se divertir sem amanhã, zero de qualquer mensagem edificante. Sabemos que o Rock tornou-se um reduto de conservadores que não sabem inglês, algo lamentável para um estilo com seu nascedouro, restando, portanto, raras exceções conscientes ou um número maior de cucas-frescas, caso do duo. A boa mão para grooves legais surge em boas canções de festa como Total Meltdown, que tem um ótimo interplay de bateria e baixo, com refrão grudento e cheiro de espírito adolescente. Guillotine também manda bem, com uma cara explícita de banda pós-grunge dos anos 1990, devidamente encorpada por guitarrinhas apitantes. Bad Influence também vai por este caminho, com ritmo acelerado e mais um refrão grudento, além de vocais gritados, tangenciando o Punk mais acessível.

A influência dos anos 1990 é outro diferencial por aqui. Over It tem vocais nirvânicos em meio a uma massaroca sônica barulhenta e simpática, enquanto Back & Forth lembra The Vines, outro grupo australiano que também tinha nesta década uma grande inspiração. O final vem com um pequeno épico subterrâneo suarento, que atende pelo nome de Witchcraft Pt.II, que encerra o disco de forma digna.

DZ Deathrays não vai mudar a sua vida ou assumir a posição de sua banda preferida mas pode te oferecer uma boa opção de música descompromissada e acessível, além de bem feita o suficiente. Venha conhecer.

*(Bloody Lovely em uma música: Total Meltdown)

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BOM PARA QUEM OUVE: The Vines, Death From Above 1979, Pixies
ARTISTA: DZ Deathrays
MARCADORES: Rock, Rock Alternativo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.