O produtor inglês Richard Russell é um dos cabeças por trás do selo XL Recordings, um dos mais importantes da contemporaneidade, responsável por promover gente do quilate de Adele, M.I.A. e Arca – entre muitos outros. Este Everything is Recorded não é a sua primeira produção, mas é a primeira a ter um aspecto mais autoral: aqui, ao invés de artista à frente de uma banda, o produtor assume a posição de curador, coordenando as forças criativas de artistas contemporâneos nos quais confia.
As produções anteriores de Russell ditam o clima do trabalho atual. Basta olhar para a parceira entre Gil Scott-Heron e Jamie xx no álbum We’re New Here, para a vibe de Bobby Womack em The Bravest Man in The Universe, ou mesmo para os recentes lançamentos de Damon Albarn e Ibeyi: é uma linha de pensamento que saúda os grandes mestres do Soul e do Funk dos anos 70 com o olhar contemporâneo dos pads, dos samples e das batidas tortas.
Everything is Recorded by Richard Russell concentra-se no que os convidados podem oferecer de melhor. Sobressaem por aqui a melancolia aveludada da voz de Sampha, as linhas melódicas de Syd e o clima jazzístico de Kamasi Washington. Ouvimos um sample de Curtis Mayfield aqui (Close But Not Quite), um cover de Gil Scott-Heron acolá (Cane), layers de sons texturizados – colheres batendo, um papel amassando – e assim, um cenário delicado, e ao mesmo tempo sofisticado, vai sendo construído.
Apesar da sobressaliência do nome do produtor no título do trabalho, este atua como uma figura discreta. Russell é um facilitador, apesar, é claro, de suas preferências estéticas serem bastante marcantes por aqui. Apesar do clima de coletânea que o álbum tem, Russell sabe dosar as medidas para criar um clima envolvente, estampando em seu trabalho solo o selo de qualidade pelo qual é conhecido mundialmente.
(Everything is Recorded by Richard Russell em uma música: Bloodshot Red Eyes)
