Um fio narrativo específico que costura todas as músicas, presença de vinhetas para contar essa história, muitos convidados, vários beats e diversos samplers – não é difícil explicar o formato de Dear Annie, álbum de estreia do rapper irlandês Rejjie Snow, assim como é fácil notar que, mesmo com faixas de alta qualidade, há uma sensação de “zona de conforto” por grande parte do disco.
Isso não só pela repetição do padrão tão comum dentro do Rap e Hip Hop, mas pela familiaridade com que ouvimos a maior parte de suas músicas, tanto pelo estilo das batidas quanto pelo tom confessional e bem humorado da obra como um todo, algo que os mais atentos ao que o gênero tem entregado nos últimos anos reconhecerão facilmente (Tyler, The Creator já fazendo escola).
Uma pequena surpresa está justamente não em algo que Dear Annie traz, mas no que deixa de fazer: As reviravoltas e surpresas dentro de uma faixa, cada vez mais populares depois de Kendrick Lamar e do próprio Tyler. Ao contrário, Snow decide por uma grande linearidade, deixando o inesperado para as mudanças de climas entre as faixas.
Das mais animadas e Pop, como LMAO, Spaceships e Egyptian Luvr (todas trabalhadas naquela vibe R&B combinada com Disco que dá tão certo), até as músicas mais obscuras e arrastadas, como Greatness e The Ends, há um senso de um registro muito bem feito, mas defasado em uma personalidade marcante que justifique seu repeat para além de uma primeira audição deslumbrada por sua qualidade.
Rejjie Snow entra para a discografia do ano e da década como mais um exemplar dos estilos que permeiam o Hip Hop hoje, principalmente por sua aura Lo-fi de aparente despretensão – característica que, se trabalhada sem medo de arriscar mais, poderia ter feito de Dear Annie uma obra memorável -, enquanto nós, ouvintes, nos contentamos com algumas poucas audições de suas melhores faixas no aguardo para os futuros lançamentos dele, que ainda é um rapper bastante promissor (como o próprio álbum prova).
(Dear Annie em uma faixa: 23)
