Resenhas

The Decemberists – I’ll Be Your Girl

Banda tenta contextualizar seu som dentro do Rock Alternativo

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Ano: 2018
Selo: Rough Trade
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Folk Rock
Duração: 43:09
Nota: 3.5
Produção: John Congleton

Colin Meloy, vocalista e cérebro por trás de The Decemberists, é responsável por uma sonoridade marcante nos anos 00. O Neo-Folk colonial americano, empacotado para shows de Rock, com adornos orquestrais, refrãos poderosos, instrumental com ênfase em sopros e metais e um clima histórico intencional. Gente como Mumford And Sons e derivados começaram a propagar e se apropriar desta receita e o som se popularizou, apesar de estar em desuso atualmente. As bandas que embarcaram nessa já notaram que é necessário modernizar um pouco as coisas e se encarregaram de misturar algumas tinturas “inovadoras” ao som, o que, até agora, só significou inserir dados referentes ao Pós-Punk britânico do início dos anos 1980. Em alguns casos, da New Wave americana do mesmo período. Estas são as instâncias “modernas” que o Rock Alternativo dos anos 2010 entende por modernizante e não cabe a nós entrarmos nessa discussão agora. O fato é que, agora, com I’ll Be Your Girl, chega a vez e a hora de The Decemberists fazer o mesmo movimento e lançar um disco “moderno”.

Veja, é claro que há alguma ironia no parágrafo anterior e ela vem mais como retórica do que qualquer outra coisa. Pessoas minimamente interessadas na música como um vetor de modernidade já sabem que o Rock não é o lugar para buscá-la, pelo menos não nos nossos tempos. O fato é que nos resta a apreciação meramente estética do álbum, que é legal, bem feito e bem produzido por John Congleton, figura fácil na pilotagem de estúdios em discos bacanas da atualidade. Colin Meloy sempre foi bom compositor, o que facilita bastante a tarefa de percorrer as onze faixas do disco, que se dividem entre as que são tributárias do som “tradicional” do grupo e as que são mais inovadoras e, como o próprio Meloy afirmou, usando verborragia empresarial/neoliberal, que levam a banda para fora de sua zona de conforto. Em ambos os lados há bons exemplos.

A faixa de abertura, com o single Once In My Life, é um abraço ao fã mais dedicado e um aviso de que algumas coisas vão mudar dali em diante. O fã, agradecido, concorda e se dispõe a ouvir. Cutting Stone, em seguida, é totalmente tradicional – meio chata até – dentro do cânon da banda, que só abre suas asas sobre novos sons com a terceira canção, Severed, que tem sintetizadores invocadinhos conversando com guitarradas de timbres manjados e vocal noturno/abafado. Não é grande coisa, mas já mostra a disposiçãO sobre renovar velhas crenças. Quando você pensa que outra faixa no mesmo estilo virá em seguida, Starwatcher, cheia de violões e refrão infeccioso, mostra que não é bem assim, reforçando que The Decemberists decidiu se arriscar, ma non troppo, como diriam os italianos.

Na verdade, o disco é mais conservador que afiado. Tripping Along é outra que vai para o lado tradicionalzão da coisa, ainda que seja bem bonita e tenha instrumental belíssimo. Daí, quando você pensa que o melhor é mesmo esperar por poucas novidades, Your Ghost te prega uma peça, com mais instrumental fronteiriço em relação às sonoridades apregoadas. A banda vai nesse jogo de estica e puxa até o fim do álbum, mas, antes do fim, oferece uma verdadeira gema ao ouvinte: o boogie no melhor estilo Glam, que é We All Die Young, que tem um surpreendente débito com algumas nuances forjadas por gente como T.Rex há muito, muito tempo atrás. Como não poderia deixar de ser, logo após vem um épico Progressivo-Folk com duração que vai além dos oito minutos, que atende pelo nome de Rusalka, Rusalka/Wld Rushes, confirmando a hesitação de Meloy e sua turma em ousar.

Não estamos aqui para julgar os jeitos de corpo dos artistas, mas sua música. Pouco importa se The Decemberists vai gravar um disco de Polca ou de Afoxé, mas que siga fazendo boa música. Com este novo trabalho, além das disputas estéticas e das frases de efeito, a banda continua nos trinques.

(I’ll Be Your Girl em uma música: We All Die Young)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.