Resenhas

The Men – Drift

Disco esquecível aposta, e falha, no ecletismo

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Ano: 2018
Selo: Sacred Bones
# Faixas: 9
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 35:01
Nota: 2.5
Produção: Alan Douches

Serei sincero com vocês: desconfio de um disco quando seu maior atrativo, segundo o próprio artista, é seu ecletismo e capacidade de “cobrir vários terrenos” na música. Pois é esta, segundo, o quinteto novaiorquino The Men, a qualidade primordial e sensacional deste novo álbum, Drift. Quase sempre o resultado é um monte de canções sem eira nem beira, sem mais nem porquê, se amontoando numa playlist que as pessoas não voltarão a ouvir. No máximo, as faixas causarão alguma impressão por fazerem o ouvinte lembrar de outras mais queridas, mais conhecidas ou algo assim. No caso, The Men, uma banda cuja premissa é – ou deveria ser – o Rock mais alternativo e garageiro ou seja lá o que isso signifique em 2018, acaba soando como uma esperta e descolada banda de auto-covers estilísticos.

O álbum parece um portfólio de intenções, no qual o objetivo é mostrar que o grupo, de fato, é capaz de atingir vários espectros sonoros, sem lembrar que algo pessoal e intransferível deve – ou deveria – permanecer, para que o ouvinte saiba que está ouvindo essa e não aquela banda, seja qual for. Deste jeito, ao longo das nove canções vindouras, temos um pequeno desfile de intenções e capacidades, quase sempre chato e sem sentido. São poucas as faixas que se salvam desta visão pouco pessoal que o grupo impõe ao álbum e, por tabela, ao ouvinte.

A abertura, Maybe I’m Crazy, é uma típica canção dançante roda presa, ou seja, que não faz ninguém dançar nem nas pistas mais fanfarronas. O motivo é simples: ela não engata um ritmo. Seus pouco mais de quatro minutos de duração são uma eterna expectativa de que alguma levada minimamente dinâmica seja empreendida pelos sujeitos, o que não acontece. When I Held Into My Arms, logo em seguida, tem bateria eletrônica intencionalmente datada, clima de bar de beira de estrada e vocais desoletes, no qual algum amor canastrão é deliberadamente zoado pelos caras, mostrando como eles são cool por estarem acima disso. É quase a mesma jogada que fez Easy, clássico dos Commodores, ser o maior hit da carreira de Faith No More, só que com uma composição própria e desconhecida. Secret Light é climática, tem teclados psicodélicos na abertura e aponta para algo da virada dos anos 1960/70, como se fosse um rescaldo de LA Woman, o último disco de The Doors com Jim Morrison. Seria legal se fosse um instrumental, mas os vocais sussurrados e obliterados jogam totalmente contra.

Rose On The Top Of The World é a melhor música do álbum, apesar de ser uma cruza improvável de alguma melodia da Legião Urbana safra 1989 com vocais que tentam desesperadamente imitar Lou Reed. De algum jeito misterioso, este ensopado de alhos com bugalhos funciona. So High, logo em seguida, é uma balada em midtempo que parece saída de algum disco obscuro de banda pouco conhecida dos anos 1980. Esquecível e sem sentido, sendo sucedida por Killed Someone, gritada, garageira, nervosa, alta e sem muito sentido, mas daí lembramos que estamos num disco-portfólio e o terreno da música pesadinha precisa ser coberto.

Sleep é um instrumental arenoso, que parece querer ser uma vinheta esquecida e anódina de algum road movie. Dá lugar para Final Prayer, com quase seis minutos de instrumental psicodélico largadão e vozes balbuciantes por todo o espectro. O fim surge com Come To Me, que pretende ser uma balada Folk estradeira e não chega a fazer feio, mas é insuficiente para recuperar o ouvinte do tédio total a que foi submetido.

The Men precisa escolher um estilo, um caminho, uma diretriz e abraçá-la. Enquanto quiser abraçar essa diversidade de estilos sem qualquer personalidade ou marca registrada, seu destino será sempre o olvido. Com “l” mesmo. Bola fora.

(Drift em uma música: Rose On The Top Of The World)

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BOM PARA QUEM OUVE: The Breeders, Ty Segall, At The Drive-In
ARTISTA: The Men

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.