Resenhas

Dingo Bells – Todo Mundo Vai Mudar

Segundo disco de trio gaúcho traz novos questionamentos sob uma sonoridade madura e bem produzida

Loading

Ano: 2018
Selo: Natura Music
# Faixas: 10
Estilos: Pós-MPB, Rock Pop
Duração: 38:38
Nota: 4.0
Produção: Marcelo Fruet

Dingo Bells é uma banda que encontrou da música sua melhor e mas potente ferramenta de expressão. O primeiro disco Maravilhas da Vida Moderna, de 2015, reunia reflexões de seus integrantes ilustradas por arranjos que representavam musicalmente parte desta natureza filosófica do grupo, complexa e expansiva.

Estas são marcas expressivas no trabalho do grupo e a pluralidade de referências colocadas em jogo mostrava que era necessário emprestar elementos de diferentes naturezas para pode simbolizar todas as filosofias construídas por seus integrantes. Dois anos depois de seu disco de estreia, o grupo retorna com o que parece ser o movimento natural de sua trajetória. Ou seja, as coisas estão maiores, mais complexas e, surpreendentemente, sucintas.

Como o próprio nome sugere, Todo Mundo Vai Mudar reconhece que, ao passar dos anos, as coisas de fato não serão as mesmas e percebe-se que há um esforço de organização dessas novas percepções que a banda colecionou entre discos. Agora, há muitas referências na mesa, mas a Música Brasileira parece ser o grande norte.

O Soul Funk dos anos 1970, grupos vocais como Boca Livre, a psicodelia Goiana da nova década, Bossa Nova e as ensolaradas melodias da década de 80 são alguns dos elementos mais perceptíveis na sonoridade deste novo trabalho, mas o grande barato aqui são as relações, combinações e misturas possíveis entre eles. Ou seja, ao mesmo tempo que tudo está maior e mais complexo, o grupo também reflete neste álbum a maturidade em saber administrar esse enorme fluxo, tal como um filósofo que cada vez fica mais perspicaz em organizar seu pensamento.

O single que dá nome ao disco pinta uma paisagem Folk Rock e que não economiza das melodias vocais potentes e pegajosas. Já Meias Palavras desacelera as coisas em uma composição fluida com harmonias ligadas diretamente a grupos como Fleet Foxes e Boca Livre. A simpática Tem Para Quem, um dos destaques do disco, é minimalista em seu arranjo para trás uma mistura interessante com um suíngue Funk.

Sinta-se Em Casa é tocada quase como uma canção brega de Eduardo Dussek, mas reconstrói esse apelo com uma roupagem quase progressiva. O grupo também entoa tons psicodélicos nas batidas constantes e espaciais de Aos Domingos (Quando Eu Resolver), como também em A Sua Sorte com referências parecidas com Os Mutantes.

Ao contrário de seu antecessor, este trabalho foi produzido em dois meses e, talvez por este motivo, o trabalho seja tão coeso e bem definido. Dessa forma, a banda reconhece que não é exceção à regra e se Todo Mundo Vai Mudar, que esta seja uma mudança grandiosa. Um disco que abre muitas possibilidades para este poderoso trio gaúcho.

(Todo Mundo Vai Mudar em uma faixa: Tem Para Quem)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Boca Livre, Carne Doce, Mahmed
ARTISTA: Dingo Bells
MARCADORES: Pós-MPB, Rock Pop

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique