Resenhas

A Place To Bury Strangers – Pinned

Novo disco do grupo traz angústia bem trabalhada em sonoridades Post-Punk

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Ano: 2018
Selo: Dead Oceans
# Faixas: 12
Estilos: Post-Punk, Noise Pop, Shoegaze
Duração: 38:17
Nota: 3.5
Produção: A Place To Bury Strangers

Quando um artista deseja passar para seus ouvintes uma sensação de angústia em suas composições, alguns cuidados devem ser tomados. Por mais que a criação de paisagens sonoras que alimentem este sentimento sejam interessantes, há casos em que isto é feito de maneira tão direta e caótica que o efeito alcançado pode ser justamente o contrário: afastar o ouvinte.

Uma banda que entende o peso disso é A Place To Bury Strangers, reunindo em sua discografia uma série de registros que exploram um lado obscuro, mas que certamente leva em consideração a forma como a atenção do ouvinte deve ser captada para que ele se mantenha interessado no decorrer da reprodução.

O novo disco do grupo parece ser uma compilação de tudo que foi construído até então. Pinned é bastante visceral em suas sonoridades, contemplando as guitarras estridentes, baixos agressivos e vocais reverberados típicos do Post-Punk. O que é bastante curioso neste trabalho, e o que também o destaca dos demais discos do grupo, é a estratégia usada para nos manter presos às músicas. Há a presença de arranjos monótonos em alguma medida e eles acabam por despertar em nós uma falsa sensação de segurança.

Ou seja, nós temos alguma ideia de que sabemos para onde estamos sendo conduzidos, mas é justamente nesse momento que a banda nos guia para onde quiser, quebrando compassos, explodindo os volumes e nos desconcertando com a profundidade embaçada de seus timbres. Nossa ingenuidade faz com que este disco nos envolva.

Never Coming Back, a faixa de abertura, nos conduz com uma linha de baixo constante que aparenta anunciar algum desfecho, mas é na verdade o elemento principal pelo qual a música é construída. Mais sutil, Situations Change se usa de um ritmo dobrado típico do New Wave para sustentar guitarras infinitas, no que claramente aponta uma ode a Joy Division. Look Me In The Eye sai dos anos 1980, criando um estarrecedor e voraz bombardeio de glitches e barulhos.

I Know I’ve Done Some Bad Things é a mais minimalista do disco, o que não significa de forma alguma que ela seja mais tranquila, nos assombrando o ouvinte com timbre robótico e metálico do vocalista. E por fim, Keep Moving On encerra o disco com o melhor que o Noise Pop pode oferecer: uma dançantes epifania recortada por timbres caóticos e grandes.

Pinned é um momento interessante na banda, no qual vemos que há um esforço para ir além de referências estereotipadas, bem como deixar claro que o Post-Punk é influência primordial. Um disco angustiante, porém sedutor.

(Pinned em uma faixa: Situations Change)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique