Resenhas

Nipsey Hussle – Victory Lap

Hip Hop da Costa Oeste dos EUA volta aos holofotes com derradeira estreia de rapper

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Ano: 2018
Selo: Atlantic Records
# Faixas: 16
Estilos: Hip Hop
Duração: 65:00
Nota: 3.5
Produção: Nipsey Hussle

Nipsey Hussle fez um percurso nada usual para chegar à sua Victory Lap – como um piloto dos antigos “ralis da morte” Paris/Dahkar, ele escolheu por rotas que poderiam parecer mais lentas para, depois de muito tempo, chegar à sua vitória. Há trezes anos, vem lançando mixtapes e se consolidando na cena local de Los Angeles, seja através de sua música no cenário underground, vendas de merchandise por suas marcas ou por colocar uma de suas mixtapes a venda por 100 dólares e ter alguém como Jay-Z comprando 100 cópias para ajudá-lo. Espécie de herói local da cidade, ele escolheu aguardar muito tempo para poder lançar o seu primeiro álbum, primeiro também por uma grande gravadora, Atlantic Records.

É complexo chamar Victory Lap de “álbum de estreia”. Mesmo que essa seja a real denominação da obra, não estamos lidando com um artista de Hip Hop debutante, mas apenas um que escolheu o Undergroud como plataforma para que seu grande momento no Mainstream pudesse chegar. De certa maneira, podemos considerar o disco interessante, nostálgico e com olhares para o futuro de um gênero que já teve seus momentos de glória: o G-Funk – ou Gangsta Funk, estilo que parecia determinar lados nos anos 1990 com a crescente rivalidade (não só musical) entre costas Leste e Oeste no Hip Hop dos EUA.

Interessante como os principais elementos do G-Funk, seja o gosto por melodias em sintetizadores antigos ao melhor estilo NWA ou a agressividade nas letras e atitudes, soam ao mesmo tempo nostálgicos e verossímeis à figura de Nipsey. Faixas como Last Time That I Checc’d, Dedication ou Million While You Young colocam-se em construções musicais que, por fim, realçam a ostentação vindoura do trabalho, a violência de espaços urbanos e a masculinidade do rapper. O último talvez seja o principal objetivo de sua música: mostrar, assim como outros artistas já fizeram, que o ambiente de onde você vem determina a sua dureza e resiliência, elementos ditos “masculinos”. O único problema com essa abordagem é quando ela ajuda a propagar preconceitos e a dividir uma comunidade.

Isso aconteceu quando o rapper postou no Instagram uma foto de adultos e jovens negros, todos de terno e felizes com a sua “victory lap” e a legenda: “They gone feed us every image of our men and boys but this one. No hyper violent…No homo sexual…No abandoners….JUS STRONG BLAC MEN AND YOUNG Men”. Uma tradução de seu contexto nos EUA indica que existe um eco dentro de uma parcela da comunidade afrodescendente que considera que os jovens negros no país são retratados ou de forma muito violenta ou muito feminina – Nipsey Hussle acabou por não só dar mais combustível a tal consideração, mas também trazer homofobia consigo. Obviamente, Nipsey sabe para direciona suas palavras. A qualidade de sua música, no entanto, atraiu colaboradores de alto escalão como Kendrick Lamar, Diddy, The Dream e Ceelo Green – artistas que não necessariamente concordam com sua postura.

A virilidade da música de Nipsey Hussle é ao mesmo tempo sua principal característica e também vulnerabilidade – quando esquecida, traz momentos inspirados de Hip Hop com suingue e Funk esperados por um gênero que, sim, é agressivo, mas que também pode soar muito datado se servir apenas de túnel no tempo para os anos 1990.

Ao longo de uma hora, o tom diminui e coloca Nipsey mais exposto, aberto a outros tipos de interação além do imperativo de sua voz – mostra que existe espaço para outros rappers dentro de si. A faixa bonus Double Up é uma dessas que pode trazer novos ares para o músico. A questão fundamental em Victory Lap é: se o G-Funk parece ganhar finalmente o protagonismo de novo no aspecto criativo, será que ele perderá justamente pela boca de seu protagonista?

(Victory Lap em uma música: Last Time That I Checc’d)

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BOM PARA QUEM OUVE: NWA, Dr Dre, Freddie Gibbs
ARTISTA: Nipsey Hussle
MARCADORES: G-Funk, Hip Hop

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.