Resenhas

Forth Wanderers – Forth Wanderers

Banda promove sopro de vida no Rock de guitarras

Loading

Ano: 2018
Selo: Sub Pop
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Lo-Fi
Duração: 32:34
Nota: 4.5
Produção: Cameron Konner

Confessarei algo para vocês: há um bom tempo o Rock não tem me emocionado como estilo musical. Tenho mania de achar que ele é/era capaz de tudo, de mudar o mundo e as pessoas. Sim, esse tipo de coisa me passava pela cabeça há até pouco tempo. Agora, com o passar dos anos, identifiquei outros segmentos que me fazem apostar na mudança de várias coisas – um dia falo deles aqui com mais propriedade. O fato é que o Rock ficou prisioneiro de fórmulas voltadas para o simples sucesso, comunicando pouca ou nenhuma mensagem que seja minimamente relevante. Tornou-se uma música de classe média embranquecida e próxima demais da banalidade. Por isso, quando surge uma banda de moleques de 20 e poucos anos com sinceridade e coração nas cordas da guitarra, ainda que não venha nenhuma mudança, alguma felicidade chega para este coração crítico aqui. Este é o caso desta adorável formação de New Jersey, surgida quando um sujeito – o guitarrista Ben Guterl – se apaixonou por uma menina de sua sala de aula. Sem jeito e meio travado, Ben resolveu dar de presente para ela – a vocalista Ava Trilling – uma música que havia feito. Ela, em troca, retornou a melodia com letras que havia escrito. E tudo começou assim. Sim, além de tudo, eu sou canceriano.

O fato é que tenho um certo fraco por sinceridade. Canções e atitudes desta natureza logo me ganham e geralmente não desapontam. Seria fácil se fosse só por isso, mas Ava e Ben e mais o resto de Forth Wanderers, formados logo em seguida – 2013 – e só lançados pela Sub Pop agora, neste belo álbum homônimo – ainda são moleques muito competentes. Ben é um pequeno arquiteto de climas e sonoridades guitarreiras simples como andar à pé, mas que cativam e encantam quem gostava daquele Rock alternativo americano dos anos 1990, especialmente de gente como The Breeders e Built To Spill, além de intérpretes atuais desta sonoridade, como Waxahatchee, por exemplo. É tudo resumido em vocais oscilando entre o involuntariamente sexy e o inevitavelmente doce, uma espécie de paralelo perto-longe, claro-escuro e uma guitarra sempre presente em composições e arranjos que permitem a dança coletiva e a apreciação solitária, contemplativa, entristecida, num canto da sala, olhando, sem ver, a cena.

Toda essa belezura guitarrística é certeza de beleza, como já dizia o outro. Os vocais de Ava se entrelaçam com a guitarra de Ben e tudo soa honesto, tocado ao vivo e não ultrapassa a marca de três, quatro minutos, em dez canções suficientes para recobrar a fé em algumas coisas. New Face, a melhor do disco, é uma fofura rinso de pouco mais de três minutos, com as seis cordas em brasa e Ava surgindo como a “menina da sala”, a mesma que pode se tornar sua melhor amiga, jamais sua namorada. Tal paradoxo é terrível, acreditem. A música da banda não sugere isso, tal visão é produto da interpretação pessoal mas Forth Wanderers sabe que suas canções se prestam a isso e orbitam esse inconsciente urbano, metropolitano, globalizante que venceu nos anos 90 e ficou por aí, suspenso no ar.

Não se esqueça: este disco, com pouco mais de meia hora de duração, oferece uma dose generosa de Rock noventista em seu estado mais puro e ingênuo. As melodias são belas, os arranjos simples e eficientes e a potencialidade de perder a atenção no que está fazendo e submergir em alguns momentos é garantida, líquida e certa. Escolha a sua preferida neste pequeno e poderodo diadema.

(Forth Wanderers em uma música: New Face)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Liz Phair, The Breeders, Waxahatchee

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.