Resenhas

Iceage – Beyondless

Quarto disco desconstrói o Punk com elementos clássicos, Dream Pop e Psicodelia

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Ano: 2018
Selo: Matador Records
# Faixas: 10
Estilos: Indie Rock, Garage Punk, Psicodelia
Duração: 40:54
Nota: 3.5
Produção: Nis Bysted e Iceage

Em muitos veículos, Iceage é definida como uma banda de Punk Rock e Indie, dadas a agressividade de seu som e aspereza de suas batidas. Contudo, um olhar atento à sua discografia nos faz perceber que o grande motivo pelo qual o conjunto dinamarquês coleciona altas notas e menções honrosas vai além da reprodução de lugares comuns e perpetuação de estereótipos.

Por trás do caos barulhento, temos melodias suaves, arranjos imprevisíveis e a construção de uma pseudo-psicodelia que, se não prende totalmente o ouvinte, certamente instiga sua curiosidade e o faz permanecer atento. Dessa forma, Iceage ruma ao lançamento de seu quarto disco, um trabalho que parece lapidar ainda mais a sonoridade rica construída nesses dez anos de atividade.

Beyondlesness tenta agregar elementos de diversas épocas da banda. Desde o ríspido Punk juvenil de seu cativante disco de estreia, New Brigade (2011) até as inserções sutis de elementos menos caricatos como metais, cordas e sintetizadores, como observado no último registro, Plowing Into The Field Of Love (2014). Ainda assim, o grupo tenta empurrar a zona de conforto para longe, explorando o máximo possível das brechas que o Punk dá, sem abrir mão de sua potência e agressividade marcante. É quase como se o grupo construísse um Punk 2.0, não no sentido de ser melhor que a primeira versão, mas por complementar e até atualizar para públicos que procuram sons mais inventivos.

Nos introduzindo aos novos elementos, o saxofone quente e grave de Hurrah já cria o ambiente para, aos poucos, imprimir sua batida ríspida. Pain Killer é um híbrido de Sonic Youth com The Libertines, acompanhado pela rouca e instigante voz de Sky Ferreira. Em momentos mas calmos, como Plead The Fifith, o grupo introduz ingredientes mais Indie, como uma balada que ora lembra um Muse menos agressivo, ora um Oasis mais pesado.

Take It All agrega a sutilidade do Dream Pop com arranjos de cordas clássicos belíssimos, em uma mistura que faria Broken Social Scene orgulhoso. Por fim, a faixa título do disco encerra esta experiência diversa com uma borrada camada de distorções e riffs repetitivos que se transforma em um piano decadente e truculento.

Em seu quarto disco, Iceage mostra que a mais Punk das bandas, à medida que tem propriedade e coragem para descontruir e reconstruir como bem entender. Um disco no qual uma escutada não é suficiente para compreender todo seu potencial. Um registro de camadas infinitas e agressividade marcante.

(Beyondless em uma faixa: Take It All)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique