Resenhas

Peace – Kindness Is The New Rock And Roll

Banda inglesa tenta em vão reviver o rock noventista

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Ano: 2018
Selo: Ignition
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 38:03
Nota: 2.5
Produção: Simone Felice

Este é o terceiro álbum do quarteto britânico Peace. Sabe quando você ouve um disco e ele não traz nem uma molécula de novidade? Este é o caso de Kindness Is The New Rock’n’Roll. Claro, a gente pode argumentar sobre o novo, sinônimo de inédito, é, de fato, a mola mestra da arte Pop, ou mesmo se sua presença é fator determinante para uma obra despertar a avidez de um público consumidor. Sempre será um debate válido e muita gente falará que, não, é melhor um artista provocar uma certa sensação de familiaridade, um certo conforto quando elabora uma obra. No caso da música tal impressão tende a aumentar, uma vez que ela tem uma fruição diferente e desperta séries de impressões e sensações que nos acompanham, de um modo distinto se comparada a uma escultura ou mesmo filme. O fato é que, se o seu objetivo ao ouvir música é encontrar artistas inovadores, que se arriscam ou procuram esticar as fronteiras, Peace não é a melhor opção.

Dito isso, não dá pra dizer que Kindness… é um disco ruim. É bem produzido, bem tocado, bem gravado e há algumas boas canções entre suas dez faixas. Os integrantes do grupo, com idades variando entre 26 e 28 anos, se isolaram da civilização e conceberam letras e músicas numa fazenda isolada no interior inglês. Sério, quantas vezes não ouvimos sobre artistas torturados pela fama instantânea, necessitados de exílio num cafundó qualquer, para recuperar a afinidade entre membros de uma banda ou equilibrar a inspiração? E quantos necessitaram de desintoxicação e, logo após, abraçaram algum tipo de filosofia oriental? Pois bem, este também é o caso dos sujeitos, encantados pela prática da yoga e pela privação em relação ao álcool e drogas mais pesadas. O resultado disso? Versos como “try to eat more blueberries, they put colour to your eyes”. É o caso de fazermos ponderações, não?

A cartilha de Peace prevê o ataque sem dó ao Britpop mais melodioso e anódino dos anos 1990. Algo como uma cruza dos piores momentos de Coldplay, Travis e Oasis, com esta pegada orientalóide/redentora, com muito amor no coração e vontade de viver num comercial de SUV, em contato com a natureza, mas sem dar tempo de sujar a roupa ou perder a conexão com a Internet. Pode funcionar para alguns mas é muito irritante quando a gente já passou certo tempo no planeta, pegando ônibus/metrô lotados, pagando boletos e tudo mais. Como dissemos, há o perdão – relativo – pois há algumas canções que mostram talento por parte dos integrantes do grupo, quase nos dando ânimo para apostar em um álbum redentor num futuro próximo. Ou não.

Canções como Power, que tem um belo refrão, ainda que ele seja “I got the power, I know it’s true”, turbinado por uma boa química de guitarra, baixo e bateria, dando força e músculo para cantoria em estádios lotados, que parece ser o objetivo primordial do álbum e da banda. A faixa-título parece um trabalho universitário no qual se pedia uma mistura de balada do Oasis de 1996, misturada com um grão de tique-taque beatlemaníaco emulado e alguma solenidade guitarrística adjacente. O resultado é bom, acredite. A outra boa canção é You Don’t Walk Away From Love, que é mais datada que um console de Atari, mas tem certo charme por ser terrivelmente inofensiva e boazinha. E é só. Pode passar a régua e não precisa embrulhar nada pra viagem.

Peace deve ter o seu público e uma galera que está ansiosa por este álbum. Torço firmemente para que a banda sirva de plataforma para novos e mais legais sons, felizmente em abundância por aí. É só questão de tempo.

(Kindness Is The New Rock’n’Roll em uma música: Power)

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BOM PARA QUEM OUVE: Gengahr, Blaenavon, Spector
ARTISTA: Peace

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.