Resenhas

Bolhazul – Florescer

Disco de estreia do trio brasiliense mistura Psicodelia e Math Rock em tons grandiosos

Loading

Ano: 2018
Selo: Independente
# Faixas: 10
Estilos: Psicodelia, Rock Alternativo, Math Rock
Duração: 42:00
Nota: 4.0
Produção: Gustavo Vazquez e Bolhazul

Segundo a geometria, o triângulo é a forma mais estável principalmente pelo fato de, por seus três pontos, só poder ser formado um plano. Sem querer colocar toda matemática por água abaixo, se há alguém que pode provar que isto está errado são os brasilienses da banda Bolhazul. Imersos em um dos cenários mais interessantes da música brasileira contemporânea, o grupo parece ser uma confluência de elementos psicodélicos com um Math Rock descompassado que constrói assim, uma sonoridade bastante grandiosa. Seu EP de estreia, Aurora (2016), preparava aos poucos e com qualidade esta concepção, como um ensaio de uma forma que ainda se constituiria. Pois bem, este momento chegou.

Florescer nos apresenta não só dez faixas instigantes e de qualidade inquestionável, mas um complexo vivo que respira à luz de cada experiência trazida pelos integrantes. O próprio grupo comentou em entrevista esta necessidade de se passar por diferentes estações para que fosse possível este florescer, revelando assim um contato bastante próximo com a natureza. Desta forma, cada composição expressa momentos diferentes e o que torna o disco uma experiência misteriosa e grandiosa é a relação entre cada uma delas. Ouvi-lo na ordem proposta ou de forma aleatória são experiências bastante distintas, além de que cada ouvinte provavelmente criará diferentes significados. O barato do disco está justamente nessa permissividade que o grupo dá do integrante colocar parte de si, ainda que tenha uma história a contar.

Em plenos reverbs, Manet abre as portas para o fértil terreno do disco, com linhas de baixo que não negam em nada a forte influência Math Rock. Botão de Pérola, com toque Post-Punk e Indie, sugere uma dinâmica marítima, ora calma, ora intensa. Flores, em sintonia com a natureza, nos elicia um voo mais calmo conduzido por uma guitarra aguda e com infinitos delays. Um pouco mais sombria, Sempre procura revelar texturas escuras deste universo, com um flerte quase que explícito com um Interpol das antigas. Na reta final, o grupo procura mostrar uma espécie de compilação de tudo visto até aqui, da qual surge a leve Olympia e a etérea epifania A Cor dos Teus Olhos Mudou com o Tempo.

Dessa forma, que aquelas afirmativas matemáticas do começo da resenha são quebradas pela banda. Os três pontos aqui, seus integrantes, claramente nos mostram diversos planos que eles são capazes de delimitar e, assim, a característica interpretativa do disco ganha mais força. Vale a pena escutar se você for um assíduo fã de Math Rock/Psicodelia, mas também se quiser gastar horas e horas investigando os cantos deste mundo criado pelo trio. Um registro de possibilidades infinitas traçado a partir de três pontos.

(Florescer em uma faixa: Olympia)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Carne Doce, Mahmed, Enemies
ARTISTA: Bolhazul

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique