Resenhas

Lily Allen – No Shame

Promessa de disco com maior identidade se perde em lançamento com ares genéricos

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Ano: 2018
Selo: Parlophone/Warner Music
# Faixas: 14
Estilos: Pop, Pop Eletrônico
Duração: 51'
Nota: 3.0
Produção: Lily Allen, BloodPop, Seb Chew, Dre Skull, Fryars, Ezra Koenig, Cass Lowe, Jack Nichols-Marcy, P2J, Emre Ramazanoglu, Samuel Reinhard, Mark Ronson, Show N Prove, Hight

O caminho que nós, como ouvintes, percorremos desde o anúncio de um álbum até o momento quando finalmente podemos escutá-lo inteiro tem grande impacto na maneira como nos relacionamos com o disco. Por exemplo: Nelly Furtado ter lançado o ótimo single Pipe Dreams fez muita gente ir com sede ao pote chamado The Ride procurando por mais daquilo e se decepcionando com uma obra meramente regular alicerçada em apenas uma música excelente. Se o que acontece com No Shame é menos grave, fica difícil não citá-lo no futuro como mais um exemplo de lançamento que prometia surpreender, mas se mostrou insuficiente na missão de se destacar por sua identidade em meio a uma multidão de tantos outros similares.

Penso que isso tem a ver com o lugar que Lily Allen encontrou para si já há algum tempo: Dentro de um Pop bastante convencional, ela se traveste de Alternativa para dialogar com dois públicos ao mesmo tempo – não é uma Taylor Swift, mas também não é uma M.I.A. Quando Trigger Bang saiu, sendo o primeiro single do disco, ele causou certa comoção ao mostrar um som muito bem contextualizado da cantora britânica, com participação do rapper Giggs, beats caprichados, graves de acordo com as tendências e uma letra sobre vícios e traumas. É um Pop que não se preocupa em construir uma ilusão de vida perfeita como o mainstream exalta.

A música chega cedo em No Shame, logo depois da introdutória Come On Then, com a qual compartilha várias características estéticas. Depois delas duas, entretando, testemunhamos uma coleção de faixas pouco diferentes de uma enorme massa de músicas que a indústria fonográfica reproduz incessantemente. Logo na terceira música, What You Waiting For?, começam as sonoridades caribenhas praticamente obrigatórias em um mundo pós-sucesso de Work (Rihanna) e Lean On (Major Lazer) nos últimos anos. O single (também legal) Lost My Mind trazia ecos disso de uma maneira menos direta para amparar um conteúdo dramático bem dosado, o que músicas como Your Choice e Waste perdem a mão e apelam para o ouvinte gostar delas a qualquer custo.

O padrão de qualidade de Lily Allen, com produções caprichadas e referências bem escolhidas, impera por todo No Shame, mesmo com um número considerável de músicas que parecem só ocupar espaço – ou “encher linguiça” mesmo – ao lado de uma ou outra faixa “obrigatória” em um disco Pop desses, como a baladona Family Man ou um aceno ao seu maior hit (Smile) em Pushing Up Daisies. Não é o disco que Trigger Bang e Lost My Mind indicavam, mas um trabalho com cara de “genérico” dentro da produção musical atual como um todo. Difícil não lembrar da lição que teimamos em não aprender: “Don’t believe the hype”.

(No Shame em uma música: Higher)

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ARTISTA: Lily Allen
MARCADORES: Pop, Pop Eletrônico

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.