Resenhas

Jonas Sá – PUBER

Terceiro disco do compositor e produtor traz tentativa bem sucedida de unir o melhor de suas referências

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Ano: 2018
Selo: Risco
# Faixas: 13
Estilos: Pós-MPB, Psicodélico
Duração: 44:00
Nota: 3.5

Quando um artista decide compor um disco, se propõe a passar por uma árdua e trabalhosa missão: organizar seus conteúdos, referências e escolher a melhor forma de passar para o ouvinte aquilo que o forma.

Entretanto, quando o artista também é um produtor de outros discos, como Kassin ou Mark Ronson, esta tarefa se torna ainda mais intensa já que estamos lidando com um universo que comporta não só sua persona como fragmentos de outros artistas também. Jonas Sá possui este fardo há algum tempo, e desta relação de diferentes personalidades surgiram discos interessantíssimos, dos quais podemos destacar o elogiadíssimo BLAM! BLAM! (2015). Agora, em sua terceira empreitada, o compositor e produtor encara sua terceira missão solo, e o resultado não poderia ser mais representativo de sua obra como um todo.

PUBER sugere este tema adolescentesco em seu título, mas seu sentido se revela bem mais amplo à medida que o disco se desenrola. É um trabalho bem diferente de seus antecessores, no que tange uma mistura mais heterogênea entre as faixas. Dá para notar que o trabalho de reunir suas referências é feito de tal maneira que, ao invés de agrupá-las em um arranjo que contemple as peculiaridades de cada uma delas, temos faixas distintas entre si que revelam as suas potencialidades.

Desde uma Bossa brega, passando pelo Indie Pop 2000, até chegar a delírios psicodélicos, o disco ganha o ouvinte pela capacidade de nos jogar de um estado de humor para outro sem que ele cause estranhamento. A puberdade vista como época de descobertas se revela justamente nas possibilidades que Jonas descobre a revisitar a si próprio.

O single Aimoré abre o registro em um tons envolventes e dançante, tais quais as baladas praianas de Lulu Santos e cuja semelhança assustadora do timbre vocal apenas potencializa a importância da referência. Olas de Calor é quente em sua pegajosidade Indie e sua letra extremamente Pop e cantada em espanhol. Trem, mais suave, se assemelha ao transporte tanto pela sonoplastia característica criada com as percussões como pelas paisagens diferentes que pinta ao longo da composição.

Entre Nosotros tem um tema sedutor, porém é mais escura e intimista, mostrando que, nas descobertas de Jonas, nem tudo são flores. Transamérica é quase um hino psicodélico retirado direto da década de 1960/70, evocando nomes como Mutantes, mas se apegando à grandiosidade do Indie epifânico de Broken Social Scene. E Kim nos convida a encerrar o registro com uma balada caprichada e afetiva, sem deixar de lado a aura psicodélica vigente em quase todas as faixas.

Entre tantos temas, referências e sonoridades, é difícil não se apaixonar por PUBER Mesmo para que não deseja uma audição tão ativa irá se deliciar com as composições relaxantes do compositor. Revela-se assim um momento extremamente saudável na carreira de Jonas Sá. Uma chance de experienciar uma puberdade menos cruel e mais aprazível.

(PUBER em uma faixa: Aimoré)

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BOM PARA QUEM OUVE: Lulu Santos, Kassin, Os Mutantes
ARTISTA: Jonas Sá
MARCADORES: Pós-MPB, Psicodélico

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique