Resenhas

Chromeo – Head Over Hills

Dupla canadense ousa pouco em novo álbum

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Ano: 2018
Selo: Warner Music
# Faixas: 12
Estilos: Funk, Pop Alternativo, Eletrônico
Nota: 3.0
Produção: David "Dave 1" Macklovitch e Patrick "P-Thugg" Gemayel

David “Dave 1” Macklovitch e Patrick “P-Thugg” Gemayel, os dois sujeitos que compõem Chromeo, sempre conseguiram escapar do estigma de serem vistos como um Daft Punk mais arejado. Pareciam mais moleques – no bom sentido -, mais desencanados e mais malandros em suas escolhas dentro da mesma caixa na qual a dupla francesa se abastece de inspiração, a saber, o Funk do início da década de 1980. Por conta da devoção a período rico e mal compreendido, as duas duplas, cada uma a seu jeito, ajudaram a popularizar as produções daquela epoca. Chromeo cresceu numa realidade mais alternativa que Daft Punk, menos conhecido e com espaço para mais experimentações. Em algum ponto do caminho, os franceses deram a volta nos canadenses, deixando-os com uma espécie de obrigação em fazer a tal passagem do alternativo para o estrelato – mais ou menos o que aconteceu em 2013, quando DP lançou seu aclamado e dourado Random Access Memory. Agora, com este Head Over Heels, Chromeo tenta mudar de prateleira, infelizmente sem muito sucesso.

Dave 1 e P-Thugg são desses caras dos quais queremos ser amigos. Se chamam de FUNKLORDZ no Spotify, fazem playlists de faixas obscuras que promovem sacolejo em qualquer pista de dança e deveriam continuar como prazer de não muitos. Sei que é chato dizer isso, mas as doze faixas que integram o álbum são, na melhor das hipóteses, promessas de bons momentos, que, no entanto, pecam pela repetição de frases, por arranjos banais ou por ambos. Quando não é por esses motivos, pecam por falta de originalidade e malemolência em manobrar no terreno aveludado do Funk anos 1980. Chromeo já esteve melhor nesta área, em discos anteriores e menos desencanados. Aqui, a exemplo de Daft Punk, convoca uma galera para participar das faixas, a saber, a cantora Amber Mark, os cantores French Montana, The-Dream e DRAM, que pouco acrescentam ao resultado final. Até o estiloso baixista italiano Pino Palladino passa batido no resultado final.

Os melhores momentos surgem quando a dupla não parece muito preocupada em soar esperta e cheia de influências. Just Friends, balançada faixa com levada grudenta de sintetizadores, com os vocais de Amber, soa fresca e pronta para as pistas, além de oferecer detalhes legais de guitarrinhas e baixos flexíveis. O single Juice, lançado no fim do ano passado, que mostrava que a dupla vinha disposta a ocupar grandes espaços, soa interessante, apesar de um arranjo com pouca criatividade. Slumming It e Count Me out também são legais, com potencial dançante inegável, mas esquecíveis e com pouca possibilidade ao emaranhado de listas e afazeres diários.

Se a ideia era oferecer mais pluralidade e mostrar domínio da coisa, talvez a dupla devesse mergulhar com orgulho nos ritmos dourados das linhas de baixo/sintetizadores da época, quem sabe revitalizando algum velho ídolo de antanho – como fizeram os franceses com Nile Rodgers. A ideia de fazer um “grande pequeno disco” acabou mostrando que os canadenses talvez não estejam prontos para sustentarem-se no mundão da mídia mundial, como Daft Punk, que tem potencial para tocar até em quermesses do interior do Laos hoje em dia.

Ainda que o resultado decepcione quem depositava fichas no talento dos caras, Head Over Heels não é um disco ruim. Quem ouvi-lo esperando música boa e animada para sair à noite e dançar, vai encontrar boas alternativas. Mas…

(Head Over Heels em uma música: Just Friends)

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BOM PARA QUEM OUVE: Cut Copy, Daft Punk, Justice
ARTISTA: Chromeo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.