Resenhas

Florence + The Machine – High as Hope

Natureza estética do projeto ganha nuances mais leves para tratar da solidão

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Ano: 2018
Selo: Universal Music
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Indie Pop
Duração: 40'
Nota: 4.5
Produção: Emile Haynie e Florence Welch

É difícil ouvir High as Hope e não se lembrar de tudo o que foi falado sobre How Big How Blue How Beautiful (2015), tanto nas resenhas e críticas quanto da parte de Florence + The Machine, que apresentava a obra como a sua mais pessoal até então. Isso porque, na perspectiva de hoje, o disco anterior pode ser entendido como um exercício para chegar no resultado deste, ou – invertendo o ponto de vista – o novo é a tentativa de levar adiante o tal grau de pessoalidade a um outro nível. Não é só ter os “pés no chão”, mas tê-los descalços. Melhor ainda, sem deixar de ser Florence + The Machine como tanto amamos ao longo da década.

Sua sonoridade tão característica (aquele lado mais Pop de um Indie percussivo, com um quê ritualístico e plenamente sentimental) faz-se presente ao longo de todo o álbum (Hunger e Patricia sendo os melhores exemplos). Ainda assim, ele ganha novos contornos, principalmente no uso de menos timbres e na ambientação grave e reverberante tão diferente do som direto e agudo do disco anterior. Em outras palavras, ouvimos menos instrumentos desta vez, e eles preenchem o local onde Florence Welch dando contorno à sua voz com uma certa distância para evidenciar poeticamente um dos temas centrais do disco: A solidão.

Um dos sentimentos mais comuns na humanidade parece ser o combustível que alimenta a artista a cavar lembranças de episódios vividos em família e de noites regadas por substâncias químicas, além dos relacionamentos amorosos falidos. Na pessoa de Florence, todos os temas dialogam entre si como base de crescimento e maturidade para ela encontrar a esperança do título, construindo aos poucos uma mensagem positiva no álbum como um todo.

Logo na primeira música, June, ela cita o amor como um ato contestador (“In those heavy days in June/When love became an act of defiance”), para depois cantar “I believe in love/and the darker it gets, the more I do” em 100 Years. Por um tempo, Florence considerou chamar o disco de The End of Love, nome da penúltima faixa, mas o título sozinho não explicaria o otimismo da letra – ela é sobre deixar para trás uma noção superficial e infantilizada do que o amor é para viver algo mais consistente após tantos relatos de carências e experiências com homens que desaparecem do nada (o famigerado “ghosting”).

Com menos simbolismos do que antes, Florence + The Machine traz uma nova exposição ao eu-lírico da compositora, que conta mais abertamente do que nunca sobre situações, lugares e pessoas que formam sua história. A grandiosidade que lhe é natural encontra aqui nuances de força em composição, arranjo e interpretação que humanizam a figura que parecia estar em cima do altar e agora se conecta às pessoas em um plano mais mundano, ao comentar uma vergonha do passado ou admitir a frustração de alguém não responder suas mensagens.

High as Hope funciona nos mais diversos níveis, desde um retrato muito particular das percepções e sensações da juventude do nosso tempo, até como um “discão” para quem só está interessado em ouvir mais daquele som que já curtia – South London Forever e Hunger cumprem dignamente seus papéis de grandes hits. Mais no lucro ainda está o fã de Florence + The Machine, que ganhou mais um exemplar brilhante em sua discografia para também saber lidar melhor com suas próprias solidões.

(High as Hope em uma música: South London Forever)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.