Resenhas

Deafheaven – Ordinary Corrupt Human Love

Banda aprofunda sua prática de trazer temas do Indie para o Black Metal

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Ano: 2018
Selo: ANTI-
# Faixas: 7
Estilos: Black Metal, Post-Rock, Ambient Metal
Duração: 61:36
Nota: 4.0
Produção: Jack Shirley, Chelsea Wolfe, Ben Chisholm

Deafheaven é a responsável por alimentar e atualizar o imaginário do Black Metal nos 2010, utilizando a dimensão do Indie e do Post-Rock para ampliar o alcance de sua música. É um salto cognitivo comparado ao que The Smashing Pumpkins deu na década de 90, ao trazer o Heavy Metal para o escopo do Grunge e, assim, escrever o nome de sua banda na história do Rock mundial.

O álbum Sunbather traz, muito provavelmente, a única capa cor de rosa da história do gênero, feita para emular o efeito de um olho fechado contra o sol. Essa estratégia vem a propósito de quebrar preconceitos e bulir com os estigmas e clichês do estilo, mas também serve para absorver – e, ao mesmo tempo, ser absorvido por – um público millennial. É algo que diz muito sobre a inteligência musical de George Clarke e seus comparsas: Deafheaven parece ter sido a única capaz de perceber que ao fechar os olhos, o que se vê não é o preto absoluto, e sim uma tonalidade pastel, viva, associada ao calor humano e à intimidade. Ou seja, não será difícil perceber que essa banda vê coisas, oportunidades e associações em lugares inusitados.

Após endurecer o jogo com New Bermuda, a banda volta à fórmula de antes com Ordinary Corrupt Human Love. Aqui, há uma clara tentativa de evocar um imaginário degradê e ensolarado no uso de termos como “favo de mel”, “amarelo canário” e “camomila”. É na música em si, no entanto, – ou seja, na escolha de melodias, harmonias, timbres e arranjos – que a banda recai nos êxitos e nos desencontros de tentar reunir universos distintos em um lugar só.

Viradas de bateria caricatas, solos de guitarra vindos do Hardcore melódico, pianos grandiloquentes e momentos que se aproximam do Pop Rock chicletento seriam uma bolíssima fora não fossem justamente uma tentativa vinda da banda de enriquecer sua sonoridade sombria. Apesar de tais momentos que vão retorcer as sobrancelhas dos mais desconfiados, faixas como Canary Yellow, Glint e Worthless Animal parecem encontrar a fórmula de balanço perfeito entre a explosividade rasgada do Metal com a geografia evocativa dos Estados Unidos, ou, mais ainda, com toda a riqueza partilhada pela música popular nas últimas décadas.

Ordinary Corrupt Human Love possui uma força cósmica nas suas incursões de dez minutos de duração. Ao trazer os temas do Indie para sua música, acaba incorporando uma narratividade que diz respeitos aos fatos frugais do cotidiano à sua húbris sonora. O resultado é uma hipersensibilidade emocional diante da vida, uma potência poética de quem vê uma colisão de universos através das pequenas coisas da vida comum.

(Ordinary Corrupt Human Love em uma música: Worthless Animal)

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BOM PARA QUEM OUVE: Alcest, Slowdive, Chelsea Wolfe
ARTISTA: Deafheaven

Autor:

é músico e escreve sobre arte