Resenhas

Mitski – Be the Cowboy

Obra complexa fascina pelo estranhamento proposto no encontro com a personalidade da artista

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Ano: 2018
Selo: Dead Oceans
# Faixas: 14
Estilos: Indie, Rock Alternativo, Folk Experimental
Duração: 32'
Nota: 4.0

A vida é a soma. Histórias, personagens, músicas, tudo o que vivemos e tudo ao que somos expostos, tudo junto, são os fatores que ajudam a definir quem somos. Uma tentativa de esmiuçar a identidade do sujeito, portanto, será eficaz se der conta da variedade de coeficientes que fazem parte do resultado, se conseguir considerar cada pecinha do mosaico como única e parte do todo ao mesmo tempo. Foi o que Mitski fez em seu Be the Cowboy, disco que não esconde uma natureza múltipla causada pela adição de elementos tão diferentes entre si unidos pela voz e pela vivência da cantora.

Tem a ver com questionamentos, conclusões e sensações que a segunda parte dos 20 anos trazem, bem a época em que Mitsuki Laycock vive. Ao trazer um grande nível de pessoalidade para suas canções confessionais, com letras que parecem recortes de conversas que ela mesma teve em sua mente, em um grau de intimidade que nem sempre é confortável para o ouvinte, mas tem justamente nisso o seu fascínio.

Há um estranhamento – e ele não é pequeno – também no aspecto sonoro, vindo da própria soma de partes tão diferentes entre si. Há músicas que parecem querer sair dançando e Mitski se assemelha a uma Sophie Ellis-Bextor depois de um choque de realidade (como Nobody e Why Didn’t You Stop). Em outros momentos, ouvimos uma cria de PJ Harvey e outras mulheres fortes pós-Grunge sem medo de pesar a mão nos timbres (A Pearl, Remember My Name). E saltam aos ouvidos também as faixas mais minimalistas, de um Folk ora mais convencional (Lonesome Love), ora mais experimental (A Horse Named Cold Air).

Be the Cowboy mostra-se uma obra de personalidade forte, refletindo o caráter da cantora. É difícil citar outro lançamento recente parecido, algum que consiga trazer melodias e arranjos tão complexos em estéticas igualmente distintas, assim oferecer como um mergulho mais intenso do que de costume na pessoalidade de um artista, com suas mais distintas nuances. Pode ser que você não goste, mas certamente respeitará Mitski pelo feito.

(Be the Cowboy em uma faixa: Me and My Husband)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.