Resenhas

Musa Híbrida – Piscinas Vazias Iluminadas em Pé

Novo disco de banda gaúcha traz sonoridades misteriosas envoltas em discursos potentes

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Ano: 2018
Selo: Escápula Records/PWR Recrods
# Faixas: 13
Estilos: Experimental, Eletrônica, Glitch Music
Duração: 39:49
Nota: 3.5
Produção: Vini Albernaz

Parece que, cada vez que tentamos enquadrar sonoridades experimentais dentro de gêneros específicos, praticamos um corte brusco de significados dessa obra. Mas, ao mesmo tempo, cortar um universo apenas sob o rótulo de Experimental também significa limitar as possibilidades criadas. É justamente dentro desta questão que a banda gaúcha Musa Híbrida encontra um terreno fértil para disseminar sua misteriosa sonoridade, bem como produzir um discurso forte embasado em temas como sexualidade, feminismo, relações entre tantos outros. Agora, com o auxílio do edital Natura Musical, o grupo nos entrega seu mais novo trabalho, exaltando ainda mais sua fluidez musical e capacidade de percorrer diversos universos e se reconhecer em todos.

Tentar nomear Piscinas Vazias Iluminadas em Pé é um ato em vão, pois ele cria seu significado no próprio mistério que o constitui. Os elementos eletrônicos são ferramentas que o grupo domina para a expressão de seus respectivos discursos, mais isso não significa que outras sonoridades como guitarras suaves e monólogos não tenham espaço dentro dessa mistura. De qualquer forma, o grande barato do disco é a capacidade de que, mesmo sem saber onde estamos ou o que estamos escutando, ele nos prende com seu discurso. Podemos não entender as totalidades, já que eles são direcionados a muitas audiências, mas desvendar as entranhas deste universo é certamente um exercício fascinante.

Pirata anuncia a natureza heterogênea do disco, com uma batida dançante, uma narrativa envolvente e timbres psicodélico sonorizando-a. Indiemainstrem usa de sintetizadores como adendos que cutucam o ouvido do receptor enquanto os membros caricaterizam a juventude hipster paulistana. Como É Bom Ser Lésbica é um hino de representatividade não só pelo conteúdo das letras, mas as construções psicodélicas que deixam a subjetividade rolar solta, permitindo que cada um se identifique da forma mais pessoal possível. Uma percussão agressiva e melodias tensas embala Não Sei, quase como versão distorcida de um Indie Rock. Do Infinito encerra o trabalho em suaves tons, compostos por reverbs infinitos e etéreos e timbre gravíssimos de sintetizadores baixo que abalam os sentidos do ouvinte.

Piscinas Vazias Iluminadas em Pé é como uma peça de teatro, não só no sentido da dramaticidade e da narrativa, mas em como o disco requer nossa atenção total e como nos envolve. É um trabalho de camadas densas e que certamente pode cativar um ouvinte em um estalar de dedos. Um álbum para se perder dentro.

(Piscinas Vazias Iluminadas em Pé em uma faixa: Como É Bom Ser Lésbica)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique