Aphex Twin é um artista a parte dentro do cenário musical como um todo. Verossímil, é um fragmento avançado de seu tempo que ousa resistir aos sinais de envelhecimento quase que inversamente: seu diálogo com o universo digital e eletrônico parecia antecipar o atual estado em que nos encontramos. Sons sintéticos, desconstruídos, acelerados e robóticos se misturaram a melodias bem arranjadas quase que meditativas ao longo de sua carreira formando o que hoje é conhecido como sua música.
Único, como poucos artistas ao longo da história conseguiram, Richard D. James se envolveu novamente com a música em 2014 com Syro, disco que marcou não só um retorno triunfal, mas também o início de uma série de experimentos e até aparições públicas, estas até rarefeitas em sua carreira. Desde então, ele lançou quatro EPs, sendo Collapse o seu mais recente trabalho.
O título do disco parece ressaltar o atual estado da sociedade: à beira de um colapso. Tal subjetividade se torna menos imaginativa quando o ouvinte se debruça ao longo das cinco faixas do trabalho e seus 28 minutos – a definição nominal para cada música parece mera formalidade quando pensada na totalidade da obra: a sensação sonora é de estarmos diante de uma montanha russa cibernética com súbitas variações e sub níveis interligados. Semelhante a um videogame, quando um jogador entra em uma nova porta e se depara com um novo momento, aqui o ouvinte tem a mesma sensação com quebras inesperadas de ritmos e expectativas aos menores sabores em cada faixa, sendo difícil às vezes entender quando uma música acaba e outra termina.
A surreal e incrível MT1t29r2 tem diversas histórias para serem contadas ao longo de seus 6 minutos – o trabalho historicamente excepcional de percussão de Aphex aparece aqui sabendo ser ao mesmo tempo agressivo e melódico, uma pancada que não destrói e, sim, atordoa. A viajante abundance10edit é dos exercícios mais viciantes do autor enquanto pthex é um híbrido do que se tornou Aphex construiu até aqui: um ser fragmentado e particular com auras de genialidade em sua condução de máquinas eletrônicas como um maestro.
Objetivamente, o entendimento do colapso proposto pela sua obra reside no clipe de T69 collapse, trabalho audiovisual reativo que enquadra o excesso de informação da atualidade através de diversas viagens lisérgicas que se quebram e fragmentam até a sua própria destruição/construção. Talvez exista algo de profético escondido no trabalho, mas a realidade é que poucos músicos dominam o universo codificado e particular que vivemos na atualidade como Aphex Twin.
(Collapse em uma música: MT1t29r2)