Resenhas

Noname – Room 25

Novo trabalho da rapper de Chicago traz instrumental ousado e versátil, colaborando em dar leveza às palavras por vezes duras da artista

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Ano: 2018
# Faixas: 11
Estilos: Jazz, Hip-Hop, R&B, Soul
Duração: 34'
Nota: 4.0
Produção: Phoelix, Noname

Noname, na verdade, tem nome: Fatimah Warner nasceu em Chicago, é mulher, rapper, poeta e tem apenas 27 anos. A escolha por intitular-se dessa maneira não vem à toa: enquanto artista, fica nítida a sua intenção de reinventar-se constantemente para seguir driblando o mercado cheio de ostentações e holofotes do Hip Hop. Na introdução de uma das faixas de seu novo álbum, essa questão entra em pauta. “Everybody think they know me/Don’t nobody really know me” diz, em Window. Tudo para representar o cuidado e a calma com que Room 25 foi gerado. Foram dois anos para produzir o disco que chega depois da aclamada mixtape Telefone, lançada em 2016.

“Maybe this the album you listen to in your car when you driving home late at night/Really questioning every god, religion, Kanye, bitches”, anuncia com humor o que parece ser o apelo do álbum já em Self. Na primeira e breve faixa do disco, ela continua: “y’all still thought a bitch couldn’t rap huh?”. Ainda que os versos toquem em questões profundas, a tonalidade sobre a qual eles emergem é amena. São onze composições que transitam pelo Soul, R&B, Jazz e Pop. Juntas, elas trazem ao repertório de Noname um instrumental que se destaca: ele chega mais ousado e versátil, sempre colaborando em dar leveza às palavras por vezes duras da artista.

Quem também auxilia nessa movimentação são os colaboradores convocados por ela. Igualmente nascidos em Chicago (metrópole importante para o gênero musical — vale lembrar que Kanye West e Chance The Rapper também a têm como sua cidade-natal), eles fazem parte de seu passado musical. A lista passa por Ravyn Lenae, Adam Ness, Phoelix, Saba, Smino e Benjamin Earl Turner.

É o caso da ensolarada Montego Bae, por exemplo. Aqui, Noname e Ravyn divagam a respeito de uma aventura caribenha sobre um teclado e um baixo bastante evidentes – sem dúvida, um dos registros mais otimistas de Room 25. Tanto que, em contrapartida, Don’t Forget About Me nos joga para um conto de uma mãe passando por quimioterapia que acontece em paralelo a uma discussão sobre as limitações de sua arte. Em uma orquestra, também solidifica a conexão entre gerações da música: “Somebody hit D’Angelo, I think I need him on this one”.

Por fim, no name confirma a sensação de paz que a artista encontrou. Com violão e piano, ela nos lembra de sua evolução pessoal. Ao atravessar sua própria dor, Warner se revela mais forte que nunca. Com este lançamento, ela mostra que tornou-se um livro aberto: estão lá gravados momentos como a sua mudança para Los Angeles, sua relação de reconhecimento com o corpo feminino, os sonhos que se realizam e as responsabilidades que vêm junto deles. Ao contrário de muitos artistas em posições similares a sua, Noname percebe as armadilhas da fama e se esforça (com sucesso) em manter-se transparente.

(Room 25 em uma música: Self)

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BOM PARA QUEM OUVE: Common, Solange, Erykah Badu
ARTISTA: Noname
MARCADORES: Hip Hop, Jazz, Ouça, R&B, Soul