Equilíbrio. Essa é a palavra que deve nortear o trabalho da banda canadense Metric. Sua matriz musical é composta por um Rock enguitarrado de têmpera noventista, um apreço por sintetizadores oitentistas e uma certa devoção a aspectos sedutores e inefáveis do grupo norte-americano Blondie, especialmente no equilíbrio entre ataque e dança dos músicos e pela belezura entre as vocalistas Emily Haines e Debbie Harry, guardadas as devidas proporções, claro. Quando algum desses elementos é mal dosado, Metric não funciona. Assim foi com o álbum anterior, Pagans In Vegas, tecladeiro e eletrônico demais. Art Of Doubt, o oitavo trabalho do quarteto, restaura a sinergia entre os pilares deste tripé de influências e brinda os fãs com um belo resultado.
Ao longo dessas doze novas faixas, Metric vai pavimentando um caminho de nuances e climas, cortesia do belo trabalho de James Shaw, que tem a manha de inserir linhas e riffs de guitarra por todos os cantos, alternando sutilezas e pequenos solos, que juntam precisão e sentimento, coisa rara hoje em dia. Também é digna de menção a presença do produtor Justin Meldal-Johnsen, que já trabalhou com Beck e Nine Inch Nails, duas criaturas noventistas e relevantes. Justin sacou a questão da necessidade de equilibrar as forças criativas de Metric e conseguiu uma sonoridade que mescla essa coisa dos 90’s com a atualidade, conferindo urgência sem perder de vista o caminho que trouxe tudo isso até aqui e agora.
Outro bom termo de comparação é Garbage. Metric, porém, é menos industrial e nebuloso, oferecendo uma boa dose de canções com espaço aberto e claridade de pensamentos, deixando as trevas estilísticas e a fumaça estilizada da metrópole opressora um pouco de lado. Emily Haines tem seu registro vocal valorizado pela produção e pelos arranjos, o que oferece uma alternância de fragilidade, força e poder de fogo guitarrístico, anotando outra cesta de três pontos para a produção e o próprio grupo.
Canções boas e uniformes pipocam por todos os lados do disco. O ataque inicial quebra-queixos com Dark Saturday tem riff invocado, bateria galopante e vocal com filtros e efeitos especiais, com espaço para baixo “real” e sintetizado intercalados, explodindo em refrão glorioso e sob medida para espaços grandes. Tem o clima em animação suspensa de Die Happy, sinuosa e insinuante – duas coisas bem distintas – oferecendo pequenas pitadas de anos 1980 via teclados e voz em falsete de Emily, tudo bem dosado e colocado a favor da melodia. Tem balada chuvosa e existencial, materializada em Seven Rules, totalmente pós-punk e lúgubre, olhando para as lágrimas e chuvas que molham o vidro da janela mas ninguém te vê. E também tem épico de encerramento do álbum, no caso, a crescente No Lights On The Horizon, que tem os instrumentos entrando paulatinamente, para virar um pequeno colosso próxima do fim.
Este novo disco de Metric recoloca a banda em seu caminho e mostra a capacidade técnica e tática que esses sujeitos têm. Uma boa pedida para line-ups de festivais não-caretas de música por esses nossos lados, né?
(Art Of Doubt em uma música: Dark Saturday)