Resenhas

Viratempo – Cura

Primeiro disco da banda traz sonoridade inédita com mesma essência de registros passados

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Ano: 2018
Selo: Tratore
# Faixas: 10
Estilos: Dream Pop, Trip Hop, Synth Pop
Duração: 30:33
Nota: 4.0

O tempo é uma coisa muito e doida e o grupo Viratempo sabe isto mais do que ninguém (não à toa tem este nome). Com poucos anos de estrada, a banda vem de uma tradição Indie Folk bem forte, rendendo bons registros como o sensível e quente EP autointitulado de 2016. Por mais que a sonoridade envolvesse o abrangente gênero do Folk, parecia que Viratempo tinha acesso a uma restrita zona de tranquilidade, a qual só conseguiríamos alcançar com suas composições ao nosso lado. Pois bem, prestes a lançar seu primeiro disco de estúdio, temos uma surpresa inacreditável ao ouvir os seus primeiros segundos do registro e, apesar de uma mudança sonora ser evidente, uma escuta mais atenta permite observar que ainda há muita essência de outros tempos presente aqui.

Do Folk raíz e Pop, migramos para um Synthpop brando e caprichado em timbres dos anos 1980. Cura pode ser um choque para aqueles que esperavam contemplar festivos e introspectivos arranjos com violões amplos mas, ao contrário do que pode se pensar, este novo cenário composto pelo grupo não vai tão longe. Apesar dos violões cederem espaço a vários sintetizadores, parece que aquela mesma sensação de bem estar e plenitude permanece forte pelas dez faixas.

A essência da banda continua presente, com uma mudança estética que a permeia, e isto acaba se revelando bem benéfico no sentido de perceber a magnitude das possibilidades e da diversidade das referências de Viratempo. Ou, para de falar de uma forma sem floreios, ainda estamos diante daquela sensação de bem estar só que em um cenário composto por mais luzes de neon. Apesar disso, vemos um esforço de sair da zona de estereótipos que esta década costuma despertar em nós, criando novos significados a partir disso.

Com um poema de anaceci proclamado por Otto, a faixa que dá nome ao registro dá um tom nostálgico e soturno em progressões de acordes e melodias que poderiam ser facilmente de Kavinsky ou de algum disco antigo de Daft Punk. Janela parece mostrar que há uma geração de músicos influenciados pelos hits de Phil Collins e Bryan Adams. Omoi usa de samples em baixa velocidade para criar um clima tranquilo e que usa das linha de baixa como o recurso sedutor que nos pega nos primeiros instantes. Desatar os Nós é a típica balada feita para uma praia a noite em uma colônia de férias nos anos 90, caprichada nos pads envolventes. Encerrando o trabalho, Pra Me Lembrar tem guitarras lamentosas com uma percussão minimalista, o jeito perfeito para nos embalar aos poucos para o fim do disco, sem nos traumatizar.

Cura traz novas possibilidades para a banda, sem negar sua essência. É um movimento ousado mas que é recompensado com hits instantâneos e uma boa dose psicodélica, sem excessos e muito eficaz na viagem que propõe. Um disco novo com um aconchegante e nostálgico tom.

(Cura em uma faixa: Janela)

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BOM PARA QUEM OUVE: Phil Collins, HOMESHAKE, Mahmundi
ARTISTA: Viratempo

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique