Resenhas

Lana Del Rey – Paradise

EP prolonga a fantasia da personagem de Elizabth Grant em uma coleção de músicas grandiosas e sacanas que ficam melhores sem “Born to Die”

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Ano: 2012
Selo: Interscope, Polydor, Stranger
# Faixas: 8
Estilos: Indie Pop, Pop, Pop Alternativo
Duração: 36:54
Nota: 3.0
Produção: Rick Nowels, Justin Parker, Rick Rubin

Lana Del Rey sabe satisfazer seu (enorme) público. Prova disso é o EP Paradise, lançado em duas edições: sua versão normal e como acompanhamento do re-lançamento de seu Born to Die, agora com um The Paradise Edition em seu nome. São oito novas músicas que conseguem ser ainda mais imponentes que as do álbum, cada uma soando maior que a outra e revelado o tamanho da comoção esperada com o disco.

Há duas maneiras de ouvir o EP, já que ele pode vir como um complemento às músicas antigas ou como uma edição independente. Se você o ouve na sequência de Born to Die, as músicas combinam muito bem entre si, já que trazem a mesma estética e sonoridade das anteriores, mas há uma ideia de progressão, como se o álbum crescesse ainda mais após The Lucky Ones (a última das três faixas-bônus de Born to Die), com Ride marcando uma grande presença desde o início. O lado negativo dessa audição é uma certa impressão de “apelação”, como se, após tudo aquilo que você já ouviu, fossem necessárias mais músicas com uma pegada vintage e letras sacanas para te conquistar.

E Paradise sozinho soa mais dinâmico, com aproximadamente metade do número de faixas do álbum (aqui são 8, enquanto o outro tem 15, se contadas as faixas-bônus), e as músicas não parecem muito costuradas umas nas outras, o que dá uma cara maior de “reunião” de canções prontas, ao invés de músicas pensadas para estar em um lançamento. De qualquer forma, elas foram bem escolhidas para um disco que se mostra plural mesmo com poucas variações.

Parece que cada faixa explora um dos elementos que deixou Lana famosa (e vale dizer que até mesmo na capa deste ela está mais bonita do que na do anterior). Bel Air é uma baladona melancólica mais simpática que Video Games (embora não tenha um refrão tão marcante), Yayo traz sua variação vocal entre os graves e agudos na melhor forma que já vimos, American tem um Indie Pop sensual fácil de agradar e Gods & Monsters tem a percussão forte com uma interpretação mais dark da cantora melhor do que foi feita nas já conhecidas, como nas chatinhas Born to Die e Blue Jeans.

Sua cover de Blue Velvet, uma balada dos anos 50, ficou monótona, apesar de alguns momentos bonitos, mas ela acaba rapidinho (tem menos de três minutos), então tudo bem. Ela fica um pouco deslocada liricamente com seus versos românticos à moda antiga, enquanto as outras apostam em letras sobre relacionamentos regados a sexo, violência e drogas – com direito à apelação do tão comentado “My pussy tastes like Pepsi Cola” em Cola..

No geral, fica mais fácil gostar de Paradise do que de Born to Die e muito disso se deve à sua curta duração – o que não é um fato muito positivo. Não é nada difícil admirar a estética de décadas passadas de suas músicas, mas letras sacanas em canções que se autoproclamam “sinceras”, mesmo vindas de um personagem (afinal, Lana é o alter-ego de Elizabeth Grant), não são surpresa para quem conhece os últimos 30 anos de música Pop e não podem ser usadas como argumento para justificar a qualidade de seu trabalho.

Mas tem dado certo para Lana (que já experimentou o fracasso sob o nome Lizzy Grant) e seus produtores, que sabem investir muito bem no que faz sucesso hoje em dia e conquistam como ninguém a molecada que ainda acredita que uma música ou disco no topo das paradas de diversos países pode ser considerada “Alternativa” – é basicamente o mesmo nível de ingenuidade de crer na tal sinceridade das composições.

Pelo menos, Paradise ficou um produto bonito, principalmente quando sob a ótica teatral do faz-de-conta que é o universo Lana Del Rey. E, como em qualquer brincadeira, estraga se for levada muito a sério.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.