Resenhas

Guilherme Arantes – Condição Humana

Com participação de seus discípulos da nova geração como Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Thiago Pethit e Tiê, o compositor e cantor prova que continua sendo um popstar brasileiro

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Ano: 2013
Selo: Coaxo do Sapo
# Faixas: 10
Estilos: Pop, Pop-Rock, MPB
Duração: 42:28
Nota: 4.0
Produção: Guilherme Arantes
SoundCloud: /tracks/87224124
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fcondicao-humana-sobr

Houve um tempo em que canções de Guilherme Arantes pipocavam na televisão e no rádio. Muitas trilhas sonoras de novelas da Globo – uma das grandes fontes de informação musical das décadas de 1970/80 – eram pródigas em abrigar hits como O Melhor Vai Começar, Deixa Chover, Amanhã, Lance Legal, entre tantos outros belos exemplos de uma forma de compor e cantar que tinha origens explícitas no melhor da produção anglo-americana dos anos 70. Guilherme teve verdadeiros marcos populares, caso de Meu Mundo e Nada Mais, de seu primeiro e homônimo disco, de 1976. Também cravou na memória nacional Lindo Balão Azul, tema do especial Pirlimpimpim, levado ao ar pela Globo em 1982, do qual participavam Moraes Moreira, Baby Consuelo, Ricardo Graça Mello e Bebel Gilberto, homenageando a obra de Monteiro Lobato. Além disso, o compositor e cantor paulista também conquistou o país com Planeta Água, rara canção com preocupação ecológica, finalista do MPB Shell, em 1981, quando foi derrotada por Purpurina, cantada por Lucinha Lins, sob uma chuva inclemente de vaias num Maracanazinho lotado.

A carreira de Guilherme Arantes, mesmo que divulgada e ligada às produções televisivas, sempre teve vida própria, sobretudo à grande capacidade de adaptação de sua voz às melodias, além de grandes habilidades nos teclados, trazidas dos tempos em que integrou o grupo progressivo Moto Perpétuo. Guilherme ainda permaneceu ativo e bem na década de 1980, experimentando um declínio nos anos 90, fruto de uma questão sócio-econômica, digamos assim. Seu pop refinado e de matriz estrangeira perdia espaço para artistas sertanejos, pagodeiros, num tempo em que a mídia comprou como produto estético essa noção popularesca como sua principal área de atuação. Não só Guilherme, mas artistas como Ritchie, as bandas de rock dos anos 80, tudo que não fosse ligado diretamente a alguma identificação nacional ainda que forçada, como bandas de axé ou a Timbalada de Carlinhos Brown, era deixado em segundo plano.

Guilherme foi cuidar da vida e montou seu estúdio Coaxo do Sapo, em Salvador, cidade que escolheu para viver. Saiu do eixo, deixou tudo pra trás e assistiu as mudanças tecnológicas que feriram de morte a indústria musical. Precisou manter-se atento, não abandonou a estrada e passou a gozar do benefício duplo de ter uma carreira sólida e independência criativa e operacional. Lançou um bom disco chamado Lótus, em 2007, pouco divulgado pela gravadora, mas não deixou de influenciar novos músicos e manter-se vivo na memória dos antigos fãs. Após tanto tempo, ele retorna com esse disco de inéditas, maturado nesses tempos distante dos holofotes.

Condição Humana é reflexivo, invocado e harmonioso. O homem não perdeu sua pegada ao piano, assina a produção, comanda sua banda com a malandragem que só o tempo pode trazer. Cruzeiro do Sul, por exemplo, é uma balada que poderia ter sido lançada nos anos 80, Oceano de Amor é herdeira direta de outras belezas como Sob O Efeito De Um Olhar, enquanto Onde Estava Você traz uma letra invocada em rítmo acelerado, com os versos “Onde andava você quando o mundo me esqueceu na areia do deserto e não te achei jamais”. É o homem com o coração na ponta das teclas do piano, assumindo inquietação, discordâncias e mantendo-se fiel ao que sempre foi: um hitmaker, um popstar brasileiro, com um currículo invejável. Participam do disco seus discípulos na nova geração de cantores e compositores brasileiros, a saber, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Thiago Pethit, Tiê, entre outros. Não que isso fosse preciso, a obra de Guilherme fala por si.

Guilherme Arantes – Condição humana

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BOM PARA QUEM OUVE: Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, Tiê
MARCADORES: MPB, Pop, Pop Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.