Resenhas

Pixies – EP1

Primeira obra de um dos quartetos mais influentes da história da música contemporânea em mais de 20 anos deveria ser comemorada?

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Ano: 2013
Selo: Independente
# Faixas: 4
Estilos: Indie Rock, Rock Alternativo
Duração: 15:20
Nota: 2.5
Produção: Gil Norton
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fep1%2Fid696936628%3F

Já passaram mais de duas décadas desde que Black Francis e Kim Deal começaram a fazer suas canções e, talvez sem querer, a revolucionar a Música Alternativa. Apesar de ter tido uma carreira relativamente curta (isso contando os anos que a banda realmente produziu material novo), apenas quatro discos (lançados entre 1988 e 1991) foram o suficiente para colocar o Pixies em posição de destaque não somente em seu próprio nicho, mas como grande influência para uma infinidade de bandas que começariam a trilhar seus próprios caminhos a partir de então e é principalmente isso que os torna tão importantes para a música contemporânea.

O ponto fraco do grupo sempre foi o relacionamento conflituoso entre Francis e Deal, que mesmo brigando muito nestas duas décadas e meia conseguiram suportar um ao outro por tempo suficiente para partir em diversas turnês e shows em que tocaram principalmente seus grandes hits do passado – mantendo viva a lenda, por mais que ainda estivesse em certo estado de latência. Quando surgiu a possibilidade (ou melhor, a vontade) de fazer novas faixas, o barril de pólvora finalmente explodiu e Kim deixou a banda em junho deste ano (sendo substituída pela sua chara Kim Shattuck, do The Muffs).

A resposta à saída da baixista foi dada duas semanas depois dela sair com uma faixa que gerou reações mistas entre os fãs, mas uma coisa já se via desde então: o Pixies, um dos grandes expoentes de uma revolução, já não se encontra mais na vanguarda, já não é o grupo revolucionário que costumava ser na virada da década de 80 e 90. Outra coisa que também se notava ali era certa sensação de autoplagio. Com sua drum machine e a marca registrada nas guitarras de Joey Santiago, Bagboy pode lembrar em diversos momentos Dig For Fire, faixa de Bossanova (1990).

Essa mesma impressão mista de Bagboy pode se estender às quatro faixas de EP1. É como se o brilhantismo do grupo tivesse se perdido com o tempo (ou talvez com a saída de Deal?). Desta vez centrado só em Francis, muito da dinâmica que existia no beligerante duo criativo se perdeu e parece que com ele a mística e constante tensão também, resultando num trabalho nada mais que mediano. Longe de ser um grande desapontamento, ele parece estar à mesma distancia de ser tão bom quanto os trabalhos prévios da banda.

O single Indie Cindy não foi escolhido à toa como tal. Se mostrando a melhor composição de toda a obra, ela consegue botar algumas das marcas registradas da banda em uma só faixa e entre elas se destacam a dinâmica entre peso e calma e as brincadeiras líricas (“you put the cock in cocktail, man”). Ainda que mais maduro, Black parece também mais relapso por não ter quem confrontar pelo “controle” da banda.

As costumeiras viagens (intergalácticas) da banda também estão presentes na faixa de abertura, Andro Queen. Parecendo sair, novamente de Bossanova, a canção agrupa a produção cheia de reverbs e certo clima espacial e algumas inserções de falas em alguma língua latina (com o vocal de Black cheio de efeitos fica difícil dizer qual é, provavelmente espanhol). Puxando para um lado mais “Surf” (um dos principais elementos do primeiro disco do quarteto) Another Toe in the Ocean é mais uma faixa mediana que se agrupa em EP1. Fechando de forma inusitada, What Goes Boom é guiada por guitarras mais pesadas e um ritmo acelerado que pode lembrar bastante a vibe de Trompe le Monde, derradeiro disco da primeira fase do grupo, lançado no longínquo ano de 1991.

EP1 por varias vezes me soa como se a banda sentisse que já tivesse cumprido sua missão dela de “inovar” o Indie Rock e lança esta obra somente para saudar os velhos fãs – virtualmente não trazendo nada de novo. E esta até pode ser comemorada como uma volta do Pixies, mas certamente não é a que sua legião de fãs espera há tantos anos. O EP pode apontar para bons caminhos a serem seguido pelo quarteto em futuro próximo, mas este ainda não está muito claro. E sobre a saída de Kim Deal, vale a pena reforçar que ela faz falta, principalmente no que diz respeito a manter a dinâmica às vezes nada amistosa com Francis, gerando um contraponto em suas ideias e fazendo com que a banda de certa forma se esforçasse mais em suas criações.

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BOM PARA QUEM OUVE: Sebadoh, The Breeders, Pavement
ARTISTA: Pixies

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts