Resenhas

Flume feat. Chet Faker – Lockjaw EP

Produtores australianos se juntam para produção de uma obra que mistura influências para criação de um som melancólico e original

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Ano: 2013
Selo: Future Classic
# Faixas: 3
Estilos: UK Garage, Post-Dubstep, Neo Soul
Duração: 13"
Nota: 3.5
Produção: Flume, Chet Faker

Flume talvez seja o nome do momento. Desde seu lançamento de estreia no começo do ano, o produtor vem chamando atenção na cena eletrônica hibridizando um Chillwave com fortes pitadas de RnB e vocais do Hip Hop. Em pouco tempo seu nome foi disseminado longe e, hoje, o australiano, de apenas 22 anos, já viaja o mundo sendo protagonista de festivais consagrados em seu gênero. Chet Faker, nome já conhecido desde Left Alone no primeiro trabalho de Flume, vem ganhando espaço sendo conhecido por seus vocais com identidade forte. Desde então aquela pulga se instalou atrás da orelha de muitos e, diante do sucesso da faixa, a dupla resolveu presentear os fãs com um trabalho de 4 e poucos dias de estúdio.

Lockjaw tem três faixas, um clipe e um peso grande. O single e faixa que abre o EP Drop the Game traz batidas que acompanham o teor melancólico da voz de Faker. É uma música que arrasta como Moderat sabe fazer em suas estruturas, sendo recheado de um teor vocal como James Blake envolve. A mesma impressão é tida com What About Us, estruturas que servem como uma areia movediça, imergindo o ouvinte para frequências que funcionam a cabeça dos australianos. E é perceptível essa sintonia. Enquanto o normal seria perceber até onde vai a referência de Flume ou onde começa a influência de Faker, parece que as coisas não são aditivas e sim complementares. Não foram timbres para se colocar em uma base pré-feita, nem vice-versa, e sim um trabalho concluído junto, passo-a-passo, pra soar único e fluir. Estamos ouvindo batidas típicas do UK Garage que usam um pack de sintetizadores que enaltecem bastante uma caixa de grave, os acordes agudos são deixados de lado e aqui a atmosfera, auxiliada por saxofone e piano, é, felizmente, letárgica, porém calorosa.

Não é fácil segurar pista com Flume, principalmente tendo ouvido as duas primeiras músicas da obra. Os sons autorais originais nem sempre são aqueles tocados para os grandes públicos, por isso nem se tem tamanha preocupação e sim uma maior liberdade criativa nesse sentido. No entanto, os produtores resolveram progredir para fechar o trabalho. Em This Song is Not About A Girl ironicamente os ânimos se exaltam e partimos para a maior baladinha de Lockjaw. A faixa não é sobre uma garota, mas fala sim do caos de um relacionamento, e brinca com a voz real e a mecanicamente modificada, como uma conversa, ali no espelho ou na cabeça mesmo. E nesse meio-tempo a realidade se altera, inclusive, musicalmente. Do Indie Eletrônico típico de um hipotético álbum do Metronomy ou Phoenix, passa para uma elevação ao 2-step, passeando pelo denso território do Post-Dubstep, como Blake ou Alex Clare.

Um pouco do que vimos com Lil Siva ou com Sampha, Chet Faker está indo no lugar certo e sendo bem apadrinhado. Já Flume conseguiu se adaptar bem fora de suas influências do Hip Hop. Álbuns com Post-Dubstep, UK Garage e Soul estão em alta e Lockjaw soube trabalhar bem os elementos para, acima de tudo, criar um trabalho original que mescla a suavidade das produções de Flume com a misantropia de Faker. Uma pena termos somente três frutos desse empenho. Ao que indica, foi resultado de uma brincadeira sem tempo entre corredores antes de shows, em aviões, hoteis, e diante de uma correria veio a calmaria. Onde poderia ter saído algo improvisado, mal produzido e com falta de identidade própria, conhecemos um pouco de como ficaria um filho de referências distintas. E querendo bem mais.

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BOM PARA QUEM OUVE: Lil Silva, Sampha, alex clare
ARTISTA: Chet Faker, Flume

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King