Resenhas

Maxïmo Park – Too Much Information

Quinto disco dos ingleses traz a mesma beleza poética à qual estamos acostumados, mas com uma bem-vinda mudança sonora

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Ano: 2014
Selo: V2 Records
# Faixas: 11
Estilos: Indie Rock, Post-Punk
Duração: 33:00
Nota: 3.5
Produção: Maxïmo Park

Paul Smith é um romântico antigo que se encontra perplexo nos tempos modernos. Nos microfones, letras e coração de Maxïmo Park, o vocalista parece ter sentido as mudanças que os anos lhe impuseram entre o lançamento de seu primeiro disco, o colossal, efervescente e sincero Certain Trigger, e o mais recente trabalho, seu quinto, Too Much Information. A maturidade parece afetar principalmente a construção musical aqui e também na troca de suas usuais guitarras – típicas do Indie Rock dos anos 2000, mas que tinham no grupo uma unidade poucas vezes vista na mesma época – por sintetizadores.

Dizem por aí que o processo natural e mutante relativo à formação musical de uma pessoa passa ou passará por esta transição. Mas algo não parece ter mudado em Paul: sua capacidade lírica e poética que o aproxima, seja no tom de voz, na forma de cantar ou nos temas, do Post-Punk dos anos 1980. Não é à toa que, na época de sua estreia e posterior consolidação, Maxïmo Park foi considerada uma das grandes responsáveis pela retomada do gênero. Entretanto, se a energia juventil os levou para um lado mais agitado em seu início, agora o grupo parece incorporar o estilo, neste disco cheio de belas melodias e sentimentos.

Suas letras, que retratam normalmente relacionamentos findados ou fadados ao fim, desilusões amorosas em sua maioria, sempre demonstraram um vocalista que “pensava demais”. Em tempos de conexões simultâneas – sejam através da rede de comunicação ou de sua rede relacionamentos -, esta característica do música torna ainda mais contemporâneos os dramas de um romântico que se vê constantemente inquieto consigo mesmo. Ele sempre irá pensar no que sua “mulher” está fazendo e sofrerá com isso. Os toques sintéticos misturados a um tom de voz mais maduro dão maior vazão à sentimentos tão mundanos e compreensíveis. Se Paul bebe destilados e demonstra embriaguez em sua voz em Drinking Martinis, percebemos que a bebida adequada para acompanhar a obra é o vinho, logo estes britânicos deveriam cruzar o canal em direção aos eternos “inimigos” franceses, algo que parece determinado na faixa seguinte.

Na bela e progressiva balada Leave This Island, seu coração está amargo. “Have you ever been compelled under a spell from a protagonist who knows you far too well?”, indaga inicialmente Smith nesta música muito bem construída. Cheia de perguntas, como se o vocalista estivesse direcionando a sua voz a outra pessoa, tem em versos típicos do fim o poder de absorver o ouvinte: “Are you going to tell me why there’s a backpack by the bedroom window?/It’s a pack of lies”. Com acidez e sinceridade que nos remetem a outros românticos da música, como Morrissey, Paul parece cada vez melhor. Brain Cells, uma das poucas músicas em sua carreira que não possuem guitarra, traz um lado à la New Order muito interessante, cheio de camadas, batidas e uma letra sobre drogas mas que pode ser incorporada a própria música criada: “I wanna try different this time”.

Não pense que o instrumento de cordas foi esquecido. Give, Get, Take retoma o espírito presente em seu disco de estreia em uma música que poderia muito bem ter sido feita naquela época. A deliciosa baladinha Midnight On the Hill tem o típico timbre de voz choroso do músico, mas que cresce junto com a música, dando-lhe uma interpretação extremamente emotiva: “What happens next? I would like to know, funny how things come and go”. Enquanto I Recognise the Light é o momento mais lúdico de todo o disco, o brilhantismo desponta na “smithsiana”, Lydia, The Ink Will Never Dry. Sentimos a guitarra de Johnny Marr aqui e nos perdemos no meio de riffs viajantes e na poesia em movimento de Paul. Não temos dúvidas, mesmo quem desconheça a figura, que o vocalista é o típico frontman que se declara através do microfone e somente através do mesmo – não se toca nenhum instrumento em conjunto. “Lydia, tell me how hard can it be? I don’t know about you but it feels good to me”.

Ao fim, sentimos que as belas letras continuam intactas e que o elemento único do grupo, Paul Smith, ainda se mantém bem à frente do Maxïmo Park. Se perdemos um pouco de intensidade, isso se deve à maturidade adquirida e se eventualmente as próprias músicas perderam o seu impacto musical e instrumental – a troca do sintético pelo orgânico é interessante mas a melhor música aqui segue os moldes antigos -, temos certeza que o poder lírico e romântico da banda, algo construído em conjunto, ainda a deixa relevante. Ao final, uma última constatação “I don’t know where we’re going but you know we’re going/ and if you know we’re going, that’s fine with me” – em um momento da música em que o lirismo nos parece cada vez mais raso, é importante saber que os poetas ainda existem, de espírito antigo e que nos ajudam a nos conectar ainda mais com esta arte. Nos sabemos que os britânicos caminham para esta tendência poética, e estamos bem com isso.

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BOM PARA QUEM OUVE: Johnny Marr, The Smiths, New Order
ARTISTA: Maxïmo Park
MARCADORES: Indie Rock, Post-Punk

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.