Jungle – Audio Club, SP

Divertido show dos britânicos decepciona pela falta de explosão e excesso de preocupação em reproduzir seu disco de estreia

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Fotos: Bruno Ulivieri
Nota: 3.5

Em face da crescente propagação de produtores musicais caseiros (“bedroom producers”), Tom McFarland e Josh Lloyd-Watson são os exemplos vivos de como o novo contexto da música atual tem seu universo de possibilidades, mas também limitações. Ambos são os cabeças de seu projeto mais bem sucedido até então, Jungle, uma releitura moderna do Soul criado a partir de uma estética marcante baseada em clipes e sonoridade bastante singulares. Na última quarta-feira, 13 de Maio, o duo se apresentou em São Paulo e tentou trazer ao vivo o que fora criado entre quatro paredes.

Jungle (2014) é uma obra marcante e repleta de hits. Faixas como The Heat, Time e Busy Earning tem o potencial dançante e viciante para te fazerem querer dançar em passinhos contidos suingados e cheios de groove. Bastante linear também, o trabalho tem alguns altos e baixos que puderam ser vistos ao vivo no Audio Club. Um deles é o fato da banda tentar a todo custo soar igual ao disco, seja através de elementos sendo tocados no palco ou não (o uso de backtracks, faixas de apoio, podia ser percebido mesmo diante da luz baixa), ou por simplesmente não conseguir sair da estrutura original de suas composições – não existia o improviso, elemento marcante na música que os influencia. Tampouco o volume, notoriamente baixo de seus instrumentos ao vivo, mas que também dá o tom ao álbum, conseguia pulsar ali no palco, nos fazendo, às vezes, duvidar de que estavámos ouvindo tudo aquilo sendo feito naquele instante.

Evidentemente, Jungle estava reproduzindo o que fora criado em seu único disco de estreia e isso já seria o suficiente para convencer o público de que valia a pena estar acordado até tarde em uma quarta-feira para ir ao show. A tentativa de Tom e Josh de criar milimetricamente o que ambos vislumbraram é impressionante, no entanto, tal objetividade acaba deixando o som deles quadrado e um pouco óbvio, perdendo muitas vezes a oportunidade de se criar algo distinto e explosivo – algo que se faz necessário no álbum e que não apareceu no concerto, pelas mesmas razões citadas acima.

Entretanto, é notório que o show é divertido. Apesar de sua pequena coleção de músicas e duração, todas as dozes composições foram tocadas e colocavam o público a dançar ao Modern Soul do grupo. Aliás, a audiência da casa era um show à parte e parecia intimidar e alegrar a banda, que se multiplica ao vivo em sete membros. Tantos músicos não implicam em maior volume ou perfomance, sendo todos excelentes na reprodução de composições e nem tanto em extravasar músicas ou mesmo interpretá-las. Enquanto Tom e Josh faziam de tudo para animar o público, se jogando e tocando instrumentos com mais intensidade, isso não se reproduzia em amplitude sonora, o que decepcionou quem estava em busca de um grande baile inspirado no melhor da música negra.

Faixas como Platoon ou Julia mostram seu potencial ao vivo, enquanto, na verdade, a apresentação se sustentava nos hits mais esperados e guardados para o fim. Depois de The Heat, todos se divertiram, mas notoriamente o show deu uma esfriada em faixas como Accelerate, Son of Gun e Lemonade Lake por justamente serem composições baixinhas, íntimas e um pouco semelhantes entre si. Enquanto o público fazia a festa, a banda não conseguia se impor dada as limitações e objetivos – tirando o percussionista e o baterista, os outros elementos não saiam de seu contexto prévio e o baixo, fundamental no Soul, foi um coadjuvante sem quase nenhum brilho.

Drops, Time e Busy Earning fizeram a sequência matadora final para que o público pudesse gastar seus últimos passinhos e ganhar a noite que foi, sim, divertida. Para quem foi esperando entender como duas pessoas se tornam uma banda ou para simplesmente escutar Jungle, não saiu decepcionado. Aliás, com um público tão entusiasmado, a noite não poderia ser ruim. No entanto, não consigo deixar de sair com um gosto amargo de uma apresentação que prometia consertar todos os defeitos do disco como sua linearidade e falta de explosão, e assim tornando a música criada grandiosa e muito mais empolgante. Ao final, a sensação que fica é não existe tanta diferença entre ouvir Jungle ao vivo ou o gravado. Sem elementos de improviso ou mesmos surpresas, quebra-se um pouco o encantamento de ir a um show principalmente se tratando de produtores que se inpiram no Soul, Groove e Funk – gêneros nada quadrados e que, apesar do divertimento, foram mais óbvios do que as suas origens na apresentação.

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ARTISTA: Jungle
MARCADORES: Show

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.